Um Lugar no Sertão

Muritiba – Bahia

Pòrtico da cidade de Muritiba – BA. (Foto: Landisvalth Lima)

Neste mais novo episódio de Um Lugar no Sertão, Contraprosa vai subir a Serra de São Pedro, a partir da cidade de São Félix e chegar ao município de Muritiba, na Bahia. É sertão porque o conceito desta palavra no Brasil é multifacetado — vai muito além da ideia de uma região seca e isolada. Historicamente, o termo surgiu do latim desertanu, que significa “região afastada” ou “deserto”, e foi adaptado para designar áreas interiores, distantes do litoral. A Serra de São Pedro é mencionada historicamente como o local onde os jesuítas fundaram um templo e um convento às margens do Rio Paraguaçu, dando origem ao povoado que mais tarde se tornaria Muritiba. Evidentemente, por ser área elevada, contribui para o clima ameno da cidade e sua paisagem característica, além de ter sido importante na formação cultural e histórica do município.

Vista parcial do centro de Muritiba, visto do coreto da cidade. (Foto: Landisvalth Lima)

Exploradores portugueses e jesuítas, que em 1559 atingiram as regiões de Cachoeira e São Félix, escalando a Serra de São Pedro que margeia o Paraguaçu, alcançaram o planalto e fundaram uma povoação, iniciando-se com a construção de dois templos e conventos, cujas ruínas ainda existem nas Fazendas São Pedro Velho e Fumal, nas proximidades da cidade de Muritiba. Com o Arraial de Cachoeira sendo inaugurado por ordem de D. Antônio Barreiras, em 1575, o escritor muritibano Anfilófio de Castro, em seu livro História e Estrelas de Muritiba, opina que esta povoação tenha sido iniciada na mesma época de Cachoeira.

Igreja do Senhor do Bonfim. (Foto: Landisvalth Lima)

Não se sabe ao certo se as ruínas da fazenda São Pedro e Fumal chegaram a dar vida ao local. Historiadores arriscam afirmar que uma delas teria sido uma Casa de Misericórdia, o que se conclui pelo nome dado à estrada que vai de São Félix àquele local, conhecida como Ladeira da Misericórdia. Quanto ao destino dessas instituições, correm duas versões a respeito: a primeira é a de que as construções não tenham chegado ao fim, e a segunda a de que foram concluídas, sendo arrasadas em 1624 pela sanha destruidora dos invasores holandeses. Fato é que, em 1640, inaugurou-se o novo templo dedicado a São Pedro, no local em que hoje se encontra a atual Igreja Matriz de Muritiba.

Coreto da cidade de Muritiba. (Foto: Landisvalth Lima)

No início da colonização, eram três as nossas capitanias: a da Bahia, a de Ilhéus e a de Porto Seguro, que se constituíam em verdadeiros latifúndios, onde funcionavam justiça própria e arrecadação de tributos feitos pelos donatários. Devido às dificuldades naturais e sem desejar fracassar no processo de colonização, Dom João III reduziu os raios de ação a pequenos núcleos que, mesmo assim, foram se desenvolvendo com lentidão. São vários que até desapareceram em decorrência de ataques de índios ou de invasores estrangeiros.

Igreja Matriz de São Pedro do Monte. (Foto: Landisvalth Lima)

Além de Salvador, criada oficialmente em 29 de março de 1549, existiam apenas as Vilas de Ilhéus e Porto Seguro, e diversos focos de povoamento ao longo da costa baiana. A colonização das terras fertilíssimas permitiu que mais produtores de cana-de-açúcar fossem se estendendo, mais notadamente nas margens dos rios navegáveis como o Paraguaçu. Nas terras da antiga Capitania de Antônio Dias Adorno, abriram estradas e surgiram as povoações de Cachoeira, São Félix, e subindo um pouco mais, Muritiba, que nasceu sob a invocação de São Pedro Velho do Monte da Muritiba, cuja freguesia foi criada em 1705 por Sebastião Monteiro de Vide, 5º Arcebispo da Bahia e Primaz do Brasil.

Vista parcial do centro de Muritiba. (Foto: Landisvalth Lima)

A evolução veio aos poucos e de forma constante. Em 1889, por decreto assinado pelo Governador do Estado da Bahia, Dr. Manoel Vitorino, São Félix foi desmembrado do Município de Cachoeira, figurando Muritiba como Distrito de São Félix. Trinta anos depois, a Lei nº 1.349, de 08 de agosto de 1919, elevou Muritiba à categoria de Vila e município, como território desmembrado do de São Félix. A sua instalação ocorreu a 1º de janeiro de 1920. Em 1922, a Lei estadual nº 1.568, de 03 de agosto daquele ano, elevou Muritiba à categoria de Cidade e Termo.

Ao longo desses anos, Muritiba chegou a ter cinco distritos: Muritiba, sede, São José do Aporá (hoje São José do Itaporan), Cabeças (hoje emancipado com o nome de Governador Mangabeira), Santo Antônio do Jordão (hoje Geolândia) e Cabaceiras do Paraguaçu (Hoje já município). Atualmente, o município é composto por dois distritos: Muritiba – a sede – e São José do Itaporan.

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Certo é que viver em uma cidade como Muritiba é mergulhar num cotidiano marcado por tranquilidade, tradição e forte senso de comunidade. A vida acontece sem pressa, com menos trânsito e mais tempo para conversas na calçada. Há, claro, eventos como a Festa de São Pedro e o Senhor do Bonfim, momentos de celebração coletiva, com quadrilhas, espadas e muita música regional. Sua cultura viva aparece em grupos folclóricos como Filhos do Paraguai e Segura-Véia, ligados às tradições locais. Além disso, a cidade está cercada por áreas verdes e tem clima ameno, ideal para quem valoriza o ar puro e paisagens serranas, numa cidade que conta com escolas, postos de saúde e comércio local diversificado, o que garante conforto sem perder o charme de ser muritibano.

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