BR 230: de Cabedelo a Lábrea

Assaré – Ceará: O mundo de Patativa

A Casa de Patativa foi restaurada exatamente como a original. (Foto: Landisvalth Lima)

O primeiro trecho não asfaltado da BR 230 fica no estado do Ceará. Ao pé da Serra do Quincuncá, antes do povoado Umari, começa o trecho de chão batido que leva o transeunte de Farias Brito a Assaré. É inacreditável se tratar de uma BR e igualmente inaceitável qualquer desculpa para o seu não asfaltamento até os dias atuais. A região é de uma beleza incrível e fica no vale que separa a Serra do Quincuncá e a Serra de Santana. Depois de cerca de 14 kms, chega-se ao distrito de Amaro. O nome vem do riacho do mesmo nome que abastece o lugar. Inclusive há um açude, distante cerca de 4 kms da localidade, que represa água deste mesmo riacho. Amaro vira distrito pelo decreto estadual nº 1.156, de 04 de dezembro de 1933, anexado ao município de Assaré. Em 1963, o distrito chegou a virar município com o nome de Amaro do Ceará, mas não foi instalado e voltou à condição antiga. Ao chegar ao centro do distrito, há a Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. É impossível ignorá-la.

A praça central do distrito de Amaro e a capela de N. Srª do Perpétuo Socorro. (Foto: Landisvalth Lima)

   Depois de Amaro, a Transamazônica segue ainda em estrada de barro batido, com alguns trechos em pedra, principalmente nas subidas íngremes da Serra de Santana. São cerca de 11 kms até o trecho asfaltado, bem no alto da serra. Lá há uma placa indicando a Casa do Patativa, que fica distante por 7kms. Não podíamos perder a oportunidade de uma visita. Passamos pela Vila Bonita, e chegamos ao terreiro da casa de Patativa do Assaré, tudo asfaltado, por incrível que possa parecer. O lamentável era que estávamos num sábado pela tarde e a casa, reconstruída tal qual era no início do século XX, estava fechada.Seguimos então para Assaré e descemos a Serra de Santana no asfalto e na pedra, mas não poderíamos, antes de contar a história do município, contar a vida do seu filho mais ilustre. Antônio Gonçalves da Silva, mais conhecido como Patativa do Assaré, nasceu no município em 5 de março de 1909 e nele faleceu em 8 de julho de 2002. foi um poeta, compositor, cantor e improvisador. Uma das principais figuras da música nordestina do século XX era o segundo filho de uma família que vivia da agricultura. Logo cedo ficou cego do olho direito por causa do sarampo. Com a morte de seu pai, aos oito anos de idade, passou a ajudar sua família no cultivo das terras do lado do seu irmão mais velho. Frequentou a escola por apenas alguns meses e é daí que começa a fazer repentes e a se apresentar em festas e ocasiões importantes. Já rapaz feito, recebeu o pseudônimo de Patativa, por ser sua poesia comparável à beleza do canto dessa ave. Participou de programas de rádio no Crato e estreia na literatura em 1956 com o livro Inspiração Nordestina. Apesar dos vários livros que guardaram toda sua poesia, a beleza estava na oralidade, no improviso e na capacidade de memorizar todos os poemas que fez, mesmo depois dos 90 anos de vida. Obteve popularidade a nível nacional com o poema A Triste Partida, grande sucesso na voz de Luiz Gonzaga, música gravada em 1964. É dele também a letra da música Vaca Estrela e Boi Fubá, gravado por Fagner. Recebeu diversas premiações, títulos e homenagens, inclusive foi agraciado com o título de Doutor Honoris Causa por cinco vezes. Patativa do Assaré era casado com Belinha e tiveram nove filhos. Apesar de ganhar fama no mundo, nunca deixou de ser agricultor e de morar na mesma região onde nasceu e se criou. Toda sua história está no Memorial Patativa do Assaré, no centro da cidade.

Igreja Matriz de N. Srª das Dores na praça central de Assaré-Ce. (Foto: Landisvalth Lima)

Assaré fica localizado a oeste da Chapada do Araripe no sul do Ceará. Sua área territorial é de 1.155,124 km², onde mora uma população de 21.697 pessoas, segundo o último censo de 2022, o que perfaz uma densidade demográfica de 18,78 hab/km². Assaré faz limites com Altaneira, Antonina do Norte, Campos Sales, Nova Olinda, Potengi, Santana do Cariri e Tarrafas. Fica distante de Fortaleza por 520 km e sua população estimada pelo IBGE para 2025 é de 22.195 pessoas. Assaré fica num entroncamento rodoviário que viabiliza o acesso entre o Cariri com o sertão dos Inhamuns. Além da Transamazônica, é servido pelas rodovias CE 176, CE 375 e CE 388.

Ainda é possível encontrar casarões com arquitetura do século XIX em Assaré. (Foto: Landisvalth Lima)

A história do município de Assaré começa no ano de 1775, porque consta que o local onde está a cidade não era povoado, apesar da infinidade de olhos d’água nas encostas da serra e a soberba pastagem nas várzeas. O início da povoação começa com Alexandre da Silva Pereira, que adquiriu terras no local e veio morar com a família. Como sua fazenda ficava num cruzamento de estradas, logo ficou bastante conhecido e o local virou uma espécie de pouso obrigatório de viajantes. Várias transações comerciais aconteceram no local e logo virou um entreposto para negócios. Alexandre se preocupou em promover o povoamento fazendo diversas doações de terras em torno da fazenda, tendo o cuidado de reservar uma parte para o patrimônio do orago da futura freguesia. Mais tarde ficou oficializada como Freguesia de Nossa Senhora das Dores da Ribeira dos Bastiões.

Em 1823, os independentes do Ceará Grande organizaram uma expedição conhecida por Marcha de Caxias, a fim de sufocar os rebeldes do Piauí. A povoação foi transformada em campo de concentração, ficando aí aquartelados, o que melhorou as condições do povoado. Em 1831, Nossa Senhora das Dores da Ribeira dos Bastiões ia ser elevada a distrito de paz, mas veio a revolução de Joaquim Pinto Madeira e transformou a região num palco de lutas entre liberais e corcundas e, além disso, a sede da freguesia passou para Santana do Brejo Grande – atual Santana do Cariri, em 1838. Com a construção da igreja matriz de Nossa Senhora das Dores, iniciada em 1842, no local da primitiva capelinha, e a construção, em 1844, do açude Banguê, depois chamado Açude de Nossa Senhora, a localidade ganha prestígio. Em 1850 volta a freguesia para Nossa Senhora das Dores da Ribeira dos Bastiões. Com o crescimento a todo vapor, a localidade passa a condição de vila pela Lei nº 1.152 de 19 de julho de 1865, desmembrado do município de Saboeiro. Sua instalação só correu em 11 de janeiro de 1869 e recebe o nome atual de Assaré, que pode significar estaca, travessia diferente ou atalho. Sua condição de município, na era republicana, só ocorreu pelo Decreto-Lei nº 448, de 20 de dezembro de 1938. Depois de ver a emancipação de alguns distritos, hoje Assaré tem 3 deles: Assaré – a sede, Amaro e Aratama.

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   A economia de Assaré está baseada na agropecuária, desde a criação de bovinos, de aves, cultura do feijão, milho e algodão. e a piscicultura, que é praticada geralmente nas margens da Barragem Canoas e dos diversos riachos espalhados no município. O artesanato também é outra fonte geradora de renda no município de Assaré. O comércio é bem desenvolvido no centro da cidade e o turismo é uma importante fonte de renda, com destaque para os seus casarões coloniais, datados do século XIX. Além do Memorial Patativa do Assaré, cabe uma vista à Igreja Matriz de Nossa Senhora das Dores, a Casa da Várzea e o Casarão do Barão de Aquiraz, só para citar alguns. Os principais eventos culturais que ocorrem no município de são a Festa da Padroeira Nossa senhora das Dores, de 7 a 15 de setembro; Festas dos Caretas, no Parque de Vaquejada e Vila Bonita, na época da Semana Santa; Assaré em Arte e Cultura – Festa de Patativa, em março, e a Festa de emancipação do município, em 19 de julho, dentre as mais destacadas.

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