Um Lugar no Sertão

Lagarto: 421 anos de história!

Igreja Matriz de N. Srª da Piedade, em Lagarto – Sergipe. (Foto: Landisvalth Lima)

No mais novo episódio de Um Lugar no Sertão, Contraprosa pede licença para mergulhar num dos maiores municípios sergipanos, considerado hoje a Capital do Interior. Seu nome é impossível de esquecer: Lagarto, uma das maiores e mais prósperas cidades do Estado de Sergipe. A área territorial do município é 968,921 km², onde mora uma população de 101.579 pessoas, de acordo com o último censo de 2022. A densidade demográfica é de 104,84 hab/km². Lagarto faz limites com os municípios de Simão Dias, Riachão do Dantas, Boquim, Salgado, Itaporanga d’Ajuda, Campo do Brito, São Domingos, Macambira e Pedra Mole. O município é servido pelas rodovias BR 349, SE 270, SE 170 e SE 160. Fica distante de Aracaju por 75 kms. O IBGE estimou sua população para este ano de 2025 em 105.957 pessoas.

Igreja dedicada a Santa Luzia, na Colônia 13, em Lagarto-SE. (Foto: Landisvalth Lima)

A história de Lagarto não é de agora. É o terceiro aglomerado urbano mais velho de Sergipe, só perdendo para São Cristóvão e Itabaiana. Existem relatos históricos dando conta de que os religiosos encontram uma aldeia de índios Kiriris, na confluência dos rios Piauí e Jacaré, que tinham o comando do cacique Surubi. Por volta de 1575, os jesuítas levantaram uma capela com o nome de São Tomé e depois uma escola para os curumins. Há historiadores acreditando que o contato com os índios já vinha acontecendo desde 1540. Depois da conquista definitiva do estado, em 1590, religiosos ainda teriam levantado mais duas capelas: a de Santo Antônio e a de São Pedro e São Paulo. Entre estes jesuítas estavam Gaspar Lourenço e João Solônio.

A atriz Maria Alves, natural de Lagarto-SE.

A sua formação urbana está no nascimento do povoado Santo Antônio, fundado nos idos de 1604 pelo sesmeiro Antônio Gonçalves de Santomé, incentivado pela necessidade de se conquistar Sergipe, expandir o catolicismo e a criação de gado no sentido Sul e Norte da capitania. Em 1658, o povoado se tornou distrito militar, medida que efetivou a posse do território e garantiu proteção contra as ameaças externas e internas. Quarenta anos depois é elevado à categoria de vila com a denominação de Freguesia de Nossa Senhora da Piedade do Lagarto, em 20 de outubro de 1698. Em 1703 nasce o distrito criado com a denominação de Lagarto. Sua condição efetiva de cidade ocorre pela Lei Provincial n.º 1.140, de 20 de abril de 1880. Portanto, agora em 2025, Lagarto faz 421 anos do nascimento do embrião urbano, 367 de distrito militar, 327 de município (dia 20 de outubro) e 145 de cidade.

Mas um fato acontecido antes disso pode ter contribuído para que o local se efetivasse como centro urbano onde hoje efetivamente está erguida a cidade. Em meados do século XVII uma forte epidemia teria forçado a migração da primeira povoação para a atual sede do munícipio, num lugar denominado Colina do Lagarto, onde, sob a invocação à Nossa Senhora da Piedade e auxiliados pelos carmelitas, os moradores teriam alcançado o livramento da moléstia que dizimou considerável parte da sua população. Assim, desta devoção nasceu, em 11 de dezembro de 1679, a Freguesia de Nossa Senhora da Piedade do Lagarto que foi sustentada pelas atividades agropecuárias, até hoje abundantes.

O lagartense Diego Costa, que jogou na Europa.

Curioso em tudo isso é que Lagarto sempre se apresentou como apenas um distrito sede, embora várias povoações tenham nascido, crescido e virado município, como é o caso de Riachão do Dantas, por exemplo. Mesmo hoje, Lagarto tem o maior povoado do estado, que é a Colônia 13. A Constituição sergipana até abriu espaço para a criação do município, mas não vingou. Hoje, a Colônia Treze é a maior aglomeração urbana fora da sede municipal, com infraestrutura consolidada, comércio ativo e serviços públicos próprios. Sua população urbana pode chegar aos 12 mil habitantes, já nascendo maior que muitos municípios sergipanos.

Silvio Romero, nascido em Lagarto-SE, fundador da ABL.

Ao longo de sua história,  Lagarto atuou firmando todo seu protagonismo na política, na arte, no esporte, na indústria e no comércio. Embora muitos torçam o nariz para a política local, com polarização entre famílias que não condiz com o século em que estamos, Lagarto revelou para Sergipe e o país figuras que tiveram papel importante na construção da identidade do seu povo. Muitos destes não nasceram no município, mas tiveram sua formação ligada a Lagarto. Comecemos pela atriz Maria Alves (1947–2008), atuante em várias novelas, filmes e peça teatrais; José Adilson Rodrigues dos Santos, o Maguila (1958–2024), pugilista nascido em Aracaju, mas que viveu na cidade por algum tempo; até o ex-governador Marcelo Déda, nascido em Simão Dias, mas que teve toda a sua formação política em Lagarto.   

Não podemos esquecer também figuras como Alexandre Fontes, Claudefranklin Monteiro, Taysa Mércia Damasceno e padre Vagner Araújo, que participaram da coleção No Colo da Piedade, obra que resgata aspectos históricos e culturais da cidade de Lagarto e da Paróquia Nossa Senhora da Piedade, uma das mais antigas de Sergipe. Também precisamos passar pelo futebol e falar do jogador mais famoso nascido em Lagarto, que atuou na Europa: Diego Costa, atacante que brilhou no Atlético de Madrid e Chelsea. E não se pode deixar de citar Silvio Romero – um dos maiores intelectuais sergipanos, conhecido nacionalmente por sua atuação como crítico literário, historiador da literatura brasileira e fundador da ABL, ocupando a cadeira 17.

Clique na imagem acima para assistir ao documentário no YouTube.

Hoje, Lagarto tem muito a oferecer a Sergipe e ao Brasil. Seu comércio é plural e vasto e sua indústria promete muito. No município há inúmeras instituições de ensino superior como a Faculdade Dom Pedro II, Universidade Vale do Acaraú, Universidade Tiradentes (EAD), Faculdade Ages, Instituto Federal de Sergipe e o Campus Avançado da Saúde da Universidade Federal de Sergipe. Uma cidade que num só espaço é possível desfrutar de tudo que Sergipe pode oferecer, inclusive na gastronomia. Além disso, os lagartenses se orgulham do seu parque de vaquejada que rivaliza com o da vaquejada de Serrinha.

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