Ribeira do Pombal, a Capital do Semiárido

E mais um episódio de Um Lugar no Sertão, hoje vamos conhecer um pouco da cidade de Ribeira do Pombal, conhecida como a Capital do Semiárido Nordeste II, na Bahia. O município tem muita história para contar e aqui vai apenas uma pequena parte. Antes, vamos aos dados geográficos. A área territorial do município de Ribeira do Pombal é de 1.228,126 km², onde vive uma população de 54.010 pessoas, censo de 2022, o que permite uma densidade demográfica de 43,13 hab/km². O município faz divisas com Tucano, Cícero Dantas, Ribeira do Amparo, Quijingue, Heliópolis e Banzaê. Sua distância para Salvador é de 271 km e três rodovias servem ao município: as Brs 110 e 410 e a BA 394, esta ainda sem pavimento asfáltico. O IBGE estimou a população de Ribeira do Pombal para este ano de 2025 em 56.316 pessoas.

A história de Ribeira do Pombal começa no século 17. Esta região era habitada pelos Quiriris, mas o vasto território pertencia aos D’Ávilas, da Casa da Torre. Apesar disso, depois de combater as missões religiosas, os D’Ávilas resolveram até ajudar os religiosos na catequese dos nativos. O município originou-se de uma aldeia de índios quiriris, cuja catequese teve início em 1667, quando os padres jesuítas, João de Barros e Jacob Rolando, ali se estabeleceram e construíram uma capela, dedicada à Santa Teresa de Jesus. A aldeia chamou-se inicialmente Santa Teresa de Canabrava, localizada no caminho para o rio São Francisco. Canabrava virou pouso dos viajantes que se dirigiam para o Velho Chico e se tornou uma das mais velhas localidades do interior da Bahia.

No início do século 18, o Colégio da Bahia tinha fazendas de gado bovino e plantações de mandioca, milho e outros cereais. Começa aí o desenvolvimento da agropecuária local e a fixação de famílias vindas de outras localidades. Em 1754 foi criada a freguesia que tomou o nome de Pombal por ser seu pároco o padre João Campos de Cerqueira Pombal, parente do Marquês de Pombal. Acabou virando uma dupla homenagem. Como já havia um conglomerado urbano significativo para a época, quatro anos depois é elevado à categoria de vila, com a denominação de Pombal, por Carta Régia de 08 de maio de1758, instalado nesse mesmo ano pelo ouvidor de Sergipe, Miguel de Aires Lobo de Carvalho. Ou seja, Ribeira do Pombal completou este ano 267 anos como município. Além disso, foi criada a Comarca em 30 de setembro de 1898, por ato do Governador Severino Vieira, e extinta em 1904. Outra Lei n.º 175, de 2 de julho de 1949, restaurou a Comarca de Ribeira do Pombal, classificando-a de 1ª Entrância.

Mas a história nunca segue em linha reta. Ao longo do percurso há curvas e senões. Nos quadros de apuração do recenseamento geral de 1920, Ribeira do Pombal aparece constituído de 3 distritos: Pombal, a sede – Mirandela e Pedras. No início da Era Vargas, em virtude dos Decretos Estaduais nº 7.455, de 23 de junho, e nº 7.479, de 8 de julho de 1931, o município de Ribeira do Pombal é extinto e seu território anexado ao município de Cipó. É claro que a situação gerou muita revolta e Pombal foi elevado novamente à categoria de município pelo Decreto nº 8.643, de 19 de setembro de 1933, sendo desmembrado do município de Cipó, constituído de 2 distritos: Pombal, a sede – e Mirandela. A reinstalação ocorreu em 10 de outubro de 1933. Por isso a festa de emancipação é comemorada em outubro e não em maio. Sua condição de cidade ocorreu pelo Decreto-lei Federal nº 311, de 2 de março de 1938. Em 31 de dezembro de 1943, por força do Decreto-lei n° 141, a cidade teve o topônimo mudado para Ribeira do Pombal para evitar confusão com Pombal, na Paraíba.
O final da 1ª fase de Ribeira do Pombal como município foi marcado pela visita de um controverso cangaceiro. Lampião visitou Ribeira do Pombal em 16 de dezembro de 1928, acompanhado por sete cangaceiros. A chegada ocorreu numa manhã de domingo, segundo relatos históricos. O grupo incluía nomes conhecidos do cangaço: Ezequiel, Virgínio, Luiz Pedro, Mariano, Corisco, Mergulhão e Arvoredo. Antes de chegar à Vila de Pombal – como era chamada na época, Lampião passou por Euclides da Cunha e Tucano, onde concedeu uma entrevista a um jornalista local. A movimentação do bando gerou preocupação entre autoridades, que solicitaram reforço policial em Serrinha, o que apressou a saída de Lampião da região.

É claro que uma cidade do porte de Ribeira do Pombal precisou da participação de muitos para chegar com representação no semiárido baiano. Como aqui é um documentário parcial sobre sua trajetória, destacamos duas figuras importantes na formação do município. A 1ª é Oliveira Brito ou Antônio Ferreira de Oliveira Brito, nascido em Ribeira do Pombal, em 8 de outubro de 1908 — e falecido em Salvador, em 3 de julho de 1997. Foi advogado e político. Formou-se em direito pela Faculdade de Direito da Bahia, em 1933. Casou dois anos depois, em 1935, com Edith de Oliveira Brito. Teve três filhas: Mariuche, Terezinha Brito e Eunice. Logo após o casamento, Oliveira Brito iniciou sua carreira como juiz na cidade de Cícero Dantas, Jeremoabo e Valença. Foi prefeito de Ribeira do Pombal, deputado federal, Ministro de Minas e Energia e ministro da Educação e Cultura no governo parlamentarista de João Goulart, de 8 de setembro de 1961 a 11 de julho de 1962. De 1985 até 1990, no Governo do Presidente José Sarney, foi presidente da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (CHESF). Por onde andou, levou o nome de Ribeira do Pombal a um alto patamar.
O 2º filho ilustre é Ferreira Brito ou José Domingos Brito Silva. Nasceu em Ribeira do Pombal em 2 de junho de 1915, sendo o sexto filho dos doze de José Domingues da Silva Neto, sergipano da cidade de Estância, e Maria Ferreira de Brito Rabelo – Dona Iaiá. Ferreira Brito se casou com sua prima Evência de Oliveira Brito – Dona Sinhazinha, e teve um filho, o veterinário José Renato Brito e Silva. Ferreira Brito foi prefeito por quatro mandatos em Ribeira do Pombal e seu filho também foi eleito por 1 mandato. Fora da política, sua vida começa como Tropeiro transportador de alimentos. Estudou apenas o básico, suficiente para abrir uma loja de tecidos em Ribeira do Amparo. Em Ribeira do Pombal, no ano de 1933, expandiu suas atividades comerciais em sociedade com outros comerciantes, fundou a Junta Comercial da Cidade, virou representante da General Motors para os estados de Bahia e Sergipe, além de ter sido gerente de uma agência avançada do Banco do Nordeste.

Hoje, Ribeira do Pombal quer mais dos seus filhos porque ainda é um município pobre. Seu PIB per capita é de apenas R$ 13.246,03. Seu comércio pujante, suas largas ruas e avenidas, seus espaços públicos bem cuidados e amplos ajudam a esconder uma realidade: há ainda muita pobreza no município, muitas ruas sem saneamento básico, estradas vicinais que precisam de melhorias e muito outras necessidades. É verdade que muito se investe no município, mas até mesmo o investimento está concentrado numa elite concentradora de renda. Para crescer é preciso distribuir de forma justa. Ribeira do Pombal tem muito ainda a fazer. Vem aí uma escola técnica, uma boa ideia, enquanto a universidade federal não chega. Muitos ainda saem de Ribeira do Pombal para tentar ganhar a vida em outros recantos deste país e até do exterior. Ainda se mantém a saga do tanto se ir, mas esperamos que isso ocorra cada vez menos. Sim, que saiam, mas para conhecer e não para sobreviver.
