Um ano marcado pela violência
A marca que manchou a trajetória do ano de 2025 na Bahia foi a violência. O estado, antes pacato, hoje frequenta diariamente as páginas policiais do país inteiro. Ontem mesmo, dois jovens morreram após serem baleados em frente a uma igreja, na Avenida ACM, no bairro de Brotas, em Salvador. As vítimas foram identificadas como Lívia Denise Dias de Souza, de 23 anos, e Arthur César Santos de Santana, de 25, atingidos por disparos de arma de fogo. Segundo informações da Polícia Civil, Lívia e Arthur tentaram fugir no momento do ataque e correram para dentro de uma igreja localizada na avenida, mas acabaram sendo alcançados pelos tiros e não resistiram aos ferimentos.
A mentalidade social demonstra que a vida humana perdeu o valor. Qualquer fato é motivo para eliminar um ser vivo. No caso do que aconteceu no bairro de Brotas, o autor dos disparos foi preso pouco depois por uma guarnição da 26ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM), no bairro dos Barris. Com ele, os policiais apreenderam uma arma de fogo, um canivete tipo punhal, um aparelho celular e um cartão de passagem. O suspeito foi encaminhado ao Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), onde foi autuado em flagrante pelo feminicídio de Lívia e pelo homicídio de Arthur. O Departamento de Polícia Técnica (DPT) foi acionado para realizar a perícia e a remoção dos corpos. O motivo pode ter sido ciúme.
Vários crimes em 2025 assombraram a Bahia. Foram mortes brutais, execuções, sequestros, além de vítimas atingidas por balas perdidas. Pior é que muitos dos casos seguem sem desfecho, mantendo a sensação de indignação e insegurança na população. Quem não se lembra do triplo homicídio ocorrido em Ilhéus, no sul do estado, em agosto? Inicialmente tratado como desaparecimento, o caso ganhou contornos trágicos quando os corpos de Alexandra Oliveira Suzart, de 45 anos, Maria Helena do Nascimento Bastos, de 41, e Mariana Bastos da Silva, de 20, foram encontrados em uma área de mata na Praia dos Milionários. Thierry Lima da Silva, de 23 anos, foi preso em flagrante no bairro do Pontal, em Ilhéus, acusado de tráfico de drogas. Durante a abordagem e em depoimento posterior, ele confessou participação em quatro homicídios, incluindo o triplo assassinato das mulheres.
Outro crime que repercutiu muito foi o sequestro do presidente estadual do Partido Verde (PV) na Bahia, Ivanilson Gomes, ocorrido em março, no bairro do Rio Vermelho, em Salvador. Homens armados invadiram a sede do partido e levaram o dirigente à força. Ivanilson foi mantido em cativeiro e os criminosos passaram a entrar em contato com familiares para exigir o pagamento de resgate. A esposa do presidente do PV recebeu mensagens e chegou a ter acesso a imagens que mostravam o marido sob poder dos sequestradores, o que aumentou a tensão em torno do caso. O secretário estadual da Juventude do PV, Gabriel Luís, aliado de Ivanilson Gomes, confessou participação no crime, agindo sob pressão de traficantes do bairro do Nordeste de Amaralina, ligados ao Comando Vermelho (CV).
Outro fato violento foi a morte da jovem Ana Luíza Silva dos Santos, de 19 anos, no bairro da Engomadeira, em Salvador. Ela foi baleada na tarde de 13 de abril, durante uma operação policial realizada por agentes da 23ª Companhia Independente da Polícia Militar. Policiais realizavam rondas quando foram recebidos a tiros por homens armados. Durante a perseguição, os suspeitos fugiram por becos da região. Na versão dos policiais, os agentes localizaram Ana Luíza caída já no chão, ferida por disparo de arma de fogo, e prestaram socorro. A jovem foi levada ao Hospital Geral Roberto Santos, mas não resistiu aos ferimentos. As investigações do Ministério Público da Bahia apontaram que Ana Luíza foi atingida com um tiro pelas costas, enquanto policiais atiravam contra um homem desarmado, em fuga, dentro de um beco. Três policiais militares do Pelotão de Emprego Tático Operacional (PETO) da 23ª CIPM foram denunciados por homicídio qualificado.
Outra vítima de disparos foi a cirurgiã-dentista Larissa Azevedo Pinheiro, de 28 anos, atingida por uma bala perdida durante uma troca de tiros entre policiais militares e criminosos na Avenida Paralela. Um confronto começou após agentes identificarem um veículo com placa clonada e iniciarem uma perseguição. Durante a ação, houve troca de tiros e um dos suspeitos foi baleado. Larissa estava na garupa de um mototaxista, a caminho do trabalho, quando o tiroteio teve início. Ela acabou sendo atingida por um disparo que perfurou seu pulmão. Após uma semana de internação, Larissa não resistiu aos ferimentos e morreu. Um homem foi preso no município de Buerarema, no sul da Bahia. Ele foi identificado como Emerson Conceição dos Santos, que possuía dois mandados de prisão em aberto. Outros dois homens que estavam com ele também foram detidos. Durante a abordagem, a polícia apreendeu uma arma de fogo e celulares. Um quarto suspeito segue foragido.
Só para citar mais alguns crimes horrendos, foi a execução do jovem Yago Vinícius Santana de Souza, de 18 anos, ocorrida na manhã de 1º de dezembro, na entrada do bairro de Santa Cruz, em Salvador. A violência do ataque causou forte comoção: moradores relataram ter ouvido mais de 70 disparos, e projéteis ficaram espalhados pela pista. O rosto da vítima ficou completamente deformado em razão dos tiros. Tivemos ainda o assassinato de três técnicos de internet, executados após serem torturados no dia 16 deste mês, no bairro do Alto do Cabrito, no Subúrbio Ferroviário de Salvador. A extrema violência do caso causou comoção. As vítimas foram identificadas como Ricardo Antônio da Silva Souza, de 44 anos, Jackson Santos Macedo, de 41, e Patrick Vinícius dos Santos Horta, de 28.
Por trás de vários crimes está o Comando Vermelho e a questão do domínio de território para o tráfico de drogas. A pacata Bahia vê sua tranquilidade transformada numa vivência infernal. E, além da marca da violência, há a marca do despreparo das nossas autoridades. Parece que estão atônitos, sem rumo, sem projeto para por fim a esta invasão das facções. Estamos diante de um estado que se mostra impotente diante das organizações criminosas, mesmo com os recursos disponíveis. Seria, de fato, uma questão de incompetência?
Imagem de destaque: Alexandra Oliveira Suzart, de 45 anos, Maria Helena do Nascimento Bastos, de 41, e Mariana Bastos da Silva, de 20, vítimas do triplo feminicídio em Ilhéus.
