Cultura

A história da garota de Uauá que brilhou no cinema

Marlene França, em 1966. (Foto: Manchete)

Nossa memória histórica é um tanto estranha. Temos nomes que contribuíram para o nosso desenvolvimento em várias áreas e que foram esquecidos ao longo dos anos, enquanto outros são reverenciados sem produzir em vida muita coisa. Um dos nomes esquecidos neste sertão do Nosso Senhor e o da atriz Marlene França, cineasta e diretora baiana, nascida em Uauá, que se destacou no cinema brasileiro entre as décadas de 1950 e 1980.

Marlene França no início dos anos 1960. (Divulgação)

Marlene França Ippolito nasceu em 5 de agosto de 1943, em Uauá, no interior da Bahia, numa família humilde com dez irmãos. Era filha de Manoel França, lavrador sertanejo pobre, que migrou, aos 17 anos para o Rio de Janeiro a busca de emprego. Lá, ele conheceu Maria Aparecida Ribeiro, moça pobre e órfã, criada como filha adotiva por uma família, onde era de fato empregada doméstica.

O casal foi para Uauá e Manoel lutava na roça como lavrador.  Os filhos começaram a chegar. Marlene foi a primeira a nascer em Uauá, a família crescia, e as dificuldades também. A cada estiagem, Manoel arrastava os seus para algum lugar. Morou inclusive em Ourinhos e Martinópolis no estado de São Paulo. Marlene fez os estudos primários em Martinópolis e logo depois voltaram para a Bahia, de volta a Uauá.

Nova seca, nova retirada. Desta feita a família foi parar em Feira de Santana. Desde cedo, Marlene ajudava na roça e vendia frutas em feiras e lia revistas sonhando com os astros do cinema. Foi justamente em uma dessas feiras, aos 13 anos, que o cineasta Alex Viany a descobriu em Feira de Santana e a convidou para atuar no filme Rosa dos Ventos (1957), iniciando sua carreira artística.

 Daí em diante não parou mais, desde pequenas participações até o estrelato, tanto no cinema como na televisão. Atuou em mais de 40 filmes entre os anos 1950 e 1980. Ganhou destaque ao lado de Mazzaropi no filme Jeca Tatu (1960), dirigido por Milton Amaral, com quem foi casada de 1959 a 1963. Um ano depois, casa-se com Ângelo Andrea Matarazzo, com quem viveu até sua morte.

Marlene França faleceu aos 68 anos. (Foto: Divulgação)

Marlene França Ippolito é lembrada como uma mulher determinada, que saiu do sertão baiano para conquistar espaço no cinema nacional, tornando-se uma referência de talento e superação. Trabalhou com grandes nomes do cinema nacional, como Walter Hugo Khouri. Além de atriz, foi também cineasta, diretora, documentarista, apresentadora e locutora. Na televisão, atuou em diversas telenovelas, como Almas de pedra (1966), Ciúmes (1966) e Gabriela (1979).

 Marlene França é dona de uma extensa carreira no cinema nacional, participou de diversos filmes. Embora uma lista completa e exaustiva possa ser difícil de compilar sem acesso a bases de dados cinematográficas detalhadas, os títulos notáveis de sua filmografia incluem Panca de Valente (1968), Janaína – A Virgem Proibida (1972), A Infidelidade ao Alcance de Todos (1972), Caçada Sangrenta (1974), A Noite das Fêmeas (1976), A Casa das Tentações (1977), O Estripador de Mulheres (1978), A Dama da Zona (1979), Jeca Tatu (1960) e Paula – A História de uma Subversiva.

Apesar de sua ligação com Uauá, os detalhes sobre o bairro, rua ou casa onde viveu não são mencionados em biografias ou registros públicos disponíveis. Também parece não existir interessados em reconstruir esta trajetória de sucesso. As tragédias são bem mais fáceis de lembrar. Ela também atuou como diretora e roteirista em curtas como Frei Tito (1985), Mulheres da Terra (1986) e Meninos de Rua (1987). Marlene França faleceu em 23 de setembro de 2011, aos 68 anos, em Itatiba, São Paulo, vítima de um infarto.

 Para quem quiser conhecer melhor Marlene França, e como ela viveu várias outras mulheres na arte dramática, basta baixar Marlene França – Do Sertão da Bahia ao Clã Matarazzo, escrita pela jornalista Maria do Rosário Caetano para a Coleção Aplauso. Como na maioria dos livros da coleção, o texto parte de um depoimento de Marlene, colhido e editado por Rosário.

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