Um Lugar no Sertão

Araci, a cidade Mãe do dia

A belíssima Praça da Conceição, em Araci-Ba. (Foto: Landisvalth Lima)

Em mais um episódio da série Um Lugar no Sertão, Contraprosa chega ao município de Araci, no sertão baiano. A cidade apareceu neste mês de novembro nos noticiários nacionais por ter sido atingida por um temporal incomum. Muitas áreas ficaram alagadas e muito prejuízo contabilizado, felizmente sem vítimas. Estivemos na cidade três dias antes do chuveiro. Araci é um município com uma área territorial de 1.496,245 km², onde vive uma população de 48.294 pessoas, censo de 2022, o que permite uma densidade demográfica de 32,28 hab/km². O município faz limites com Teofilândia, Conceição do Coité, Tucano, Santaluz, Cansanção, Barrocas, Nova Soure, Biritinga e Quijingue. Fica distante de Salvador por 211 kms e o IBGE estimou sua população para este ano de 2025 em 50.308 pessoas.

A história de Araci começa por volta do ano de 1845, na fazenda Raso, do capitão José Ferreira de Carvalho. Uma capela dedicada a Nossa Senhora da Conceição foi construída no local e daí nasce o povoamento em torno do templo. Com a chegada de moradores, desenvolveram-se as atividades agropecuárias e comerciais. O crescimento foi rápido e logo surgiu o distrito, que recebeu a denominação de Nossa Senhora da Conceição do Raso pela Lei Provincial nº 1720, de 12 de abril de 1877. Em 1890, foi elevado à categoria de vila, portanto município, com a denominação de Raso por Ato de 13 de dezembro de 1890, desmembrado de Tucano, com um único distrito sede. A instalação ocorreu em 04 de fevereiro de 1891.

Vista parcial do centro de Araci-Ba. (Foto: Landisvalth Lima)

No ano de 1904, alguns fatos marcam a existência do município de Araci. Uma Lei Municipal de 22 de janeiro daquele ano cria os distritos de Pedra Alta e Sítio Novo, anexados ao município de Raso. Neste mesmo ano, Lei Estadual nº 575, de 21 de setembro de 1904, o município de Raso passa a se chamar Araci. O nome é de origem indígena, um vocábulo tupi, que significa mãe do dia. Tudo seguiu seu curso quando, na Era Vargas, Araci perde sua autonomia pelo Decreto-lei Estadual nº 7.479, de 08 de julho de 1931. O município de Araci é extinto, sendo seu território anexado ao município de Tucano. Esta situação só muda pelo Decreto-lei Estadual nº 11.089, de 30 de novembro de 1938, quando o distrito de Araci é transferido do município de Tucano para Serrinha. Sua condição de município só ocorreu novamente pela Lei Estadual nº 863, de 14 de novembro de 1956, desmembrado de Serrinha, constituído apenas do distrito sede. A instalação ocorreu em 07 de abril de 1959.

Ainda hoje Araci só tem o seu distrito sede, apesar de localidades bem estruturadas como os povoados Pedra Alta, Tapuio, João Vieira, Barbosa, Poço Grande e Várzea da Pedra. O município é servido pelo rio Itapicuru, no limite com o município de Tucano. Também destacamos o Riacho Carnaíba. Suas águas foram represadas dando lugar ao açude de Poço Grande, que vira centro de lazer nos fins de semana. Araci conta com a BR 116, principal via de transporte de mercadorias e passageiros. Também conta com a BA 408, ligando-a aos municípios de Conceição do Coité e Santa Luz, ainda quase que totalmente sem o pavimento asfáltico.

Araci tem hoje uma população superior a 50 mil pessoas. (Foto: Landisvalth Lima)

Além dos impactos imediatos das chuvas, Araci enfrenta problemas estruturais históricos que afetam o cotidiano da população, como fragilidade na infraestrutura urbana, desafios na saúde e educação, e vulnerabilidade socioeconômica. Boa parte dos problemas ainda enfrentados tem o dedo de administradores descompromissados com o progresso do município. Para resumir o drama num único dado, nos últimos 25 anos, Araci teve 12 de suas contas administrativas rejeitadas pelo Tribunal de Contas dos Municípios, 2 ainda não analisadas e apenas 11 aprovadas com ressalvas. Somente as tais ressalvas são de assombrar qualquer pessoa sensata.

Araci, portanto, vive um duplo desafio: Problemas imediatos causados por chuvas intensas e alagamentos e questões estruturais históricas ligadas a saneamento, saúde, educação e economia, que tornam a cidade mais vulnerável a crises climáticas e sociais. Em outras palavras, a falta de infraestrutura adequada e a vulnerabilidade socioeconômica amplificam os impactos dos desastres naturais, criando um ciclo difícil de romper sem investimentos consistentes e planejamento urbano.

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Apesar de tudo, a cultura de Araci pulsa e se destaca pela preservação das tradições populares, pelo apoio a artistas locais e pela existência de espaços dedicados à memória e às manifestações culturais, como o Centro Cultural Araci. Atividades como peças teatrais, apresentações musicais, exposições e espaço para leitura permitem que o Centro Cultural seja bem avaliado por visitantes e moradores, sendo visto como ambiente acolhedor e organizado. Visitar Araci é conhecer seus encantos e interagir com o seu povo. Araci valoriza sua memória histórica e promove a diversidade cultural. As festas populares, tradições religiosas e apoio a artistas locais são pilares que mantêm viva a identidade do município.

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