Um Lugar no Sertão

Cachoeira – Bahia

Vista parcial de Cachoeira, a partir da Igreja do Carmo. (Foto: Landisvalth Lima)

Neste episódio de Um Lugar no Sertão, Contraprosa tem a honra de apresentar a cidade de Cachoeira, portão de entrada para inúmeras regiões da Bahia, inclusive o sertão. Sua localização na região do Recôncavo Baiano, às margens do Rio Paraguaçu, permitiu outrora adentrar no território baiano em várias direções. Para chegar à cidade, há várias opções. Vindo do Sul, pela BR 101, pega-se o acesso à cidade de Muritiba, segue-se pela BA 502 passando por Muritiba e São Félix. Também há outro acesso pela BR 101, próximo à Barragem de Pedra do Cavalo, que dá acesso à cidade de São Félix, o mais curto de todos, com apenas 3 kms. Quem vem do Norte pela mesma BR 101, deve acessar o entroncamento de Conceição da Feira, pegar a BA 502, seguir até a BR 420 e chegar à cidade de Cachoeira. Pela mesma BR 420 chega-se a Cachoeira a partir de Santo Amaro da Purificação. O município tem uma área territorial 394,894 km², que abriga uma população de 29.250 pessoas, dados do censo de 2022, o que permite uma densidade demográfica de 74,07 hab/km². Cachoeira faz limites com os municípios de Conceição da Feira, Santo Amaro, Saubara, São Félix, Maragogipe, Governador Mangabeira e Muritiba. Sua população estimada para 2024 foi de 30.550 pessoas e fica distante de Salvador por aproximadamente 120 km. O Município é constituído de três distritos: Cachoeira – a Sede, Belém da Cachoeira e Santiago do Iguape.

Cachoeira recebeu o título de Cidade Heroica pelas lutas em favor da libertação da Bahia e do Brasil. (Foto: Landisvalth Lima)

A história da formação do território do município de Cachoeira nos remete ao século IX, quando os índios tapuias, que habitavam a região, foram expulsos para o interior do continente devido à chegada de povos tupis, procedentes da Amazônia. A fundação do povoado é atribuída ao célebre náufrago português Diogo Álvares Correia, o Caramuru, provavelmente o primeiro branco a pisar na região. No entanto, as primeiras edificações começam no século XVI, quando chegaram os primeiros exploradores à região, habitada pelos tupinambás. Em 1531, chegava à Bahia a expedição de Martim Afonso de Souza com a incumbência de estimular o cultivo da cana-de-açúcar. O Recôncavo baiano, que começava a ser explorado, possuía terras propícias a essa cultura e onde criaram os primeiros engenhos. Nessa comitiva estava o fidalgo Paulo Dias Adorno, que se instalou à margem esquerda do Rio Paraguaçu, entre os riachos Pitanga e Caquende. Em sua fazenda foi construída uma ermida em homenagem a Nossa Senhora do Rosário, atual Capela da Ajuda. Em torno dela surgiu uma povoação que se desenvolveu rapidamente em função do florescimento da economia açucareira. No final do século XVI já existiam cerca de cinco engenhos na Região

Igreja de Nossa Srª do Rosário. Em torno dela Cachoeira se desenvolveu. (Foto: Landisvalth Lima)

Cachoeira foi elevada à condição de Freguesia de Nossa Senhora do Rosário, em 1674. Devido à sua localização estratégica, um entroncamento de importantes rotas que se dirigiam ao sertão, ao Recôncavo, às Minas Gerais ou a Salvador, então capital da colônia, logo passou a se enriquecer e, em 1698, tornou-se a Vila de Nossa Senhora do Rosário do Porto da Cachoeira do Paraguaçu. Cachoeira, nessa época, tornou-se o local para onde afluíam os ricaços daquele tempo, aqueles que há até pouco tempo se denominavam de Senhores de Engenho. Ao lado do grande centro açucareiro em que ia se transformando, outras culturas ali se desenvolviam, principalmente a do fumo, que se conserva até hoje como dos melhores em todo o interior do Estado. Tão rica era a Vila que, em 1756, o Rei de Portugal resolveu taxá-la numa vultosa quantia, revertida para a recuperação da cidade de Lisboa, quase totalmente destruída por um terremoto. Paralelo ao seu desenvolvimento econômico, crescia sua importância política: receberia, algum tempo depois, as visitas ilustres de D. Pedro I, D. Pedro II, Princesa Isabel e Conde D’Eu.

Sem exageros, quase uma cidade inteira foi tombada como patrimônio. (Foto: Landisvalth Lima)

Foi no século XIX, entretanto, que Cachoeira se viu projetada definitivamente no cenário da história política baiana e brasileira. A Vila foi foco de onde partiram as lutas armadas contra os portugueses pela Independência do Brasil. Historicamente, Cachoeira foi a pioneira no movimento emancipador do Brasil. Dali partiram os primeiros brados de revolta contra a opressão lusitana e surgiram mais tarde os batalhões patrióticos, liderados por figuras como a do Barão de Belém, Rodrigo Antônio Falcão Brandão, Maria Quitéria de Jesus – a mulher-soldado, dentre outras que imortalizaram na história Nacional. A 25 de Junho de 1822, antecipando o Grito do Ipiranga, Cachoeira já proclamava o Príncipe D. Pedro I como Regente e lançava a semente que frutificou em 2 de julho de 1823, quando a Bahia definitivamente tornou-se livre do jugo português, consolidando a Independência do Brasil. Neste dia, pela primeira vez na História, a sede do Governo Baiano foi transferida oficialmente para a Cidade. A data comemora o 25 de junho de 1822, quando Cachoeira e alguns Municípios vizinhos, iniciaram as lutas pela Independência da Bahia.

É curioso como o povo de Cachoeira conseguiu preservar por cerca de 400 anos sua histórica arquitetônica e cultural. (Foto: Landisvalth Lima)

Cachoeira é denominada a Cidade Heroica, estabelecida pela lei nº 43, de 13 de março de 1837. Em virtude dos seus feitos, foi a Sede do Governo Provisório do Brasil durante a guerra da Independência em 1822 e, novamente, em 1837, quando ocorreu o levante da Sabinada. Desnecessário dizer da sua importância cultural para a Bahia e o Brasil. Daí virou cidade Monumento Nacional, além de Cidade Heroica, com forte presença da cultura afro-brasileira, especialmente nas tradições religiosas e artísticas. Mas nem tudo são flores em toda essa história. A primeira crise econômica se abateu sobre o Município no final do Século XIX, quando chegou a perder um quarto da sua população. A partir de 1924 é atingida por uma nova crise, resultante de problemas na agroindústria fumageira e de reestruturação do sistema viário estadual, que veio a marginalizar seu porto. A partir de 1940, Cachoeira entrou em uma fase de grande decadência, perdendo gradativamente a sua importância, à medida em que crescia o processo de seu isolamento. Com o desenvolvimento do transporte rodoviário, a ferrovia se tornou obsoleta e o transporte fluvial, que sempre representou fator preponderante na importância de Cachoeira, decaiu tanto que chegou a ser suspenso. Crises se sucederam na área da indústria fumageira, chegando ao fechamento de fábricas, enquanto as respectivas lavouras, que ocuparam posição de liderança por mais de dois séculos, igualmente retrocederam, cedendo a primazia a outras regiões.

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Hoje, Cachoeira é um dos principais pontos de visitação de turistas da Bahia, principalmente a partir de 1971, quando foi declarada Cidade Monumento Nacional pelo presidente Emílio Garrastazu Médici, devido à preservação de seu patrimônio histórico e cultural. Por isso mesmo, Cachoeira é um dos principais polos culturais da Bahia, com forte presença do barroco colonial, igrejas históricas, museus e festas populares, além de manter viva a tradição afro-brasileira, com destaque para o candomblé, a Irmandade da Boa Morte e manifestações culturais como o Samba de Roda. Com seu conjunto arquitetônico tombado pelo IPHAN, a cidade preserva casarios coloniais, igrejas barrocas, sobrados e monumentos históricos que encantam visitantes e estudiosos. Cachoeira também é um importante centro da cultura afro-brasileira, com tradições religiosas, festas populares e manifestações artísticas profundamente ligadas ao candomblé e à herança africana.

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