BR 230: de Cabedelo a Lábrea

Cajazeiras – Paraíba

Cajazeiras nasceu a partir de uma escola criada pelo Padre Rolim

Catedral Metropolitana de Cajazeiras-PB. (Foto: Landisvalth Lima)

Neste episódio de BR 230 – Transamazônica – de Cabedelo a Lábrea, Contraprosa se despede da Paraíba com um município para lá de importante: Cajazeiras. É a última cidade que margeia a Transamazônica na Paraíba e fica distante da divisa com o Ceará por cerca de 15 km. A área territorial de Cajazeiras é de 562,703 km², abrigando uma população no último censo 2022 de 63.239 pessoas, com densidade demográfica de 112,38 hab/km². Cajazeiras faz limites com Santa Helena, São João do Rio do Peixe, São José de Piranhas, Nazarezinho, Bom Jesus, Cachoeira dos Índios e com o município cearense de Barro. O IBGE estimou sua população para 2025 em 66.585 pessoas. A distância para João Pessoa é de 475 kms.

A história de Cajazeiras começa numa fazenda fundada no século XVIII por Luiz Gomes de Albuquerque. A existência no lugar de várias cajazeiras, árvores do cajá, fruta parecida com o umbu, justifica a origem do nome. Antes disso, porém, as terras localizadas à margem da Lagoa de São Francisco foram, por meio de uma sesmaria, cedidas aos proprietários Francisco Gomes Brito e José Rodrigues da Fonseca pelo governador da capitania, Luiz Antônio Lemos Brito. Treze anos mais tarde, em 7 de fevereiro de 1767, José Jerônimo de Melo, outro governador da capitania, doou parte dessas terras para o pernambucano Luiz Gomes de Albuquerque, que mais tarde fundou a Fazenda Cajazeiras ou Sítio Cajazeiras. Essa fazenda foi doada por Luiz Gomes a uma de suas filhas, Ana Francisca de Albuquerque, após o seu casamento com Vital de Souza Rolim, membro de uma família tradicional cearense vinda de Jaguaribe. Com a doação, o local tornou-se uma grande fazenda de gado. Em 1804, próximo ao sítio, foi construída A Casa Grande da Fazenda e o Açude Grande.

Igreja Matriz de Nossa Senhora de Fátima, desde 12 de janeiro de 1957, em Cajazeiras-PB. (Foto: Landisvalth Lima)

Inácio de Souza Rolim, um dos filhos de Ana e Vital, nascido no Sítio Serrote em 22 de agosto de 1800, foi ordenado sacerdote no Palácio Episcopal de Olinda, em Pernambuco, em setembro de 1825. Quase quatro anos depois, em 1829, padre Rolim funda a Escolinha de Serraria, célula inicial da futura cidade de Cajazeiras. A escola começou a crescer a partir de 1833, atraindo estudantes do local e de outras regiões. Em 1834, Ana de Albuquerque funda uma capela, dedicada à sua devota Nossa Senhora da Piedade, que hoje corresponde à Catedral de Cajazeiras. Dois anos depois, a Escolinha de Serraria, que havia sido construída em uma casa feita de madeira, mudou-se para uma nova casa feita de alvenaria. Sete anos depois, ou seja, 1843, o padre Rolim muda-se para seu sítio de origem, onde ainda residiam seus pais, e funda um colégio de salesianos, que hoje é o Colégio Nossa Senhora de Lourdes, que também atraiu vários estudantes e até mesmo personalidades, inclusive o Padre Cícero, de Juazeiro do Norte, Ceará. Além dele, outras personalidades também estudaram lá e passam a residir nas proximidades do colégio. Não é exagero quando dizem que Cajazeiras é a terra que ensinou a Paraíba a ler. A cidade, portanto, nasce de uma escola fundada por um padre.

Uma cidade que nasceu de uma escola, não pode deixar de ter uma biblioteca considerável. (Foto: Landisvalth Lima)

Com urbanização sempre em crescimento, foi criado o distrito, com a denominação de Cajazeiras, pela Lei Provincial nº 5, de 29 de agosto de 1859, subordinado ao município de Sousa. Daí para município foi um pulo. Cajazeiros foi elevado à categoria de vila, ou seja, município, com a mesma denominação, pela Lei Provincial nº 92, de 22 de novembro de 1863, desmembrado de Souza, constituído do distrito sede e devidamente instalado em 20 de junho de 1864, administrado pelo vereador e presidente da Câmara, o sacerdote e vigário paroquial José Tomaz de Albuquerque. Em 10 de julho de 1876, através da lei provincial nº 616, a vila é elevada à condição de cidade, aumentando a sua influência social e política na Paraíba. No ano de 1914, Cajazeiras ganhou uma diocese, no mesmo local onde Ana de Albuquerque construiu uma capela, que foi escolhida para ser a catedral. No ano seguinte, o município foi atingido por uma das mais graves secas ocorridas no país, que virou até romance da pena da cearense Raquel de Queirós. Da fundação de Cajazeiras até primeira metade do século XX, a divisão administrativa do município permaneceu inalterado. A partir de 1938, alguns distritos são criados e anexados ao município, caso de Cachoeiras dos Índios, Engenheiro Ávidos e Bom Jesus. Só não se emancipou de Cajazeiras Engenheiro Ávidos que, hoje, com a sede forma o atual município.

Íracles Brocos Pires, descendente da família Rolim e dama do teatro no sertão da Paraíba. (Foto: Divulgação)

Está mais que claro da importância da família Rolim para a formação e desenvolvimento da cidade de Cajazeiras. Desde Padre Inácio de Souza Rolim, considerado o fundador de Cajazeiras, professor educador de várias personalidades; Manoel de Sousa Rolim, eleito deputado provincial entre 1844 e 1845, inclusive representou Cajazeiras na Câmara Municipal de Sousa antes da emancipação da cidade; Ana Francisca de Albuquerque – ou Mãe Aninha, matriarca da família fundadora e responsável pela construção da Capela de Nossa Senhora da Piedade, em 1834; e, por fim Vital de Souza Rolim, casado com Ana Francisca e um dos primeiros líderes locais. Essas figuras não apenas ajudaram a fundar Cajazeiras, mas também moldaram sua identidade como centro educacional e religioso. A cidade continua a carregar esse legado com orgulho.

Em tempos mais próximos, vale destacar a figura de Íracles Brocos Pires. Teatróloga, escritora, radialista, jornalista e professora. Natural de Cajazeiras e considerada a dama do teatro sertanejo. Íracles Brocos Pires, carinhosamente conhecida como Dona Ica, é uma das figuras culturais mais marcantes nascidas de Cajazeiras. Sua trajetória é um verdadeiro símbolo de resistência, criatividade e amor pelas artes no Sertão. Nasceu em 15 de janeiro de 1933, em Cajazeiras, filha de Adriano Brocos e Cecília Matos Rolim Brocos. Estudou no Rio de Janeiro, onde frequentou a Faculdade de Medicina da UFF e mais tarde o Curso de Teatro da Escola de Belas Artes. Casou-se com o médico Waldemar Pires Ferreira e teve dois filhos, Jeanne Brocos e Saulo Péricles. Foi teatróloga, atriz, diretora e escritora, com atuação intensa no teatro amador e no rádio. Montou o Auto da Compadecida (Ariano Suassuna), O Noviço (Martins Pena), Édipo Rei (Sófocles) e também peças sua como Fui eu, mas não espalhe, de 1968. Faleceu tragicamente em um acidente automobilístico em Jequié (BA), no dia 9 de março de 1979. O principal teatro de Cajazeiras leva o seu nome: Teatro Íracles Pires (ICA), inaugurado em 1985 e reformado em 2018, um dos maiores espaços culturais do Sertão.

Cajazeiras nasceu neste local. (Foto: Landisvalth Lima)

Nos dias atuais, Cajazeiras é a principal cidade do extremo oeste da Paraíba. Possui uma cultura diversificada, realizando diversos eventos anualmente, como o Carnaval e o Festival Estadual de Teatro. O município possui um dos melhores Índices de Desenvolvimento Humano da Paraíba e, economicamente, o setor terciário é sua principal fonte de renda, tendo o comércio e os serviços como importantes atividades econômicas. Mas a cidade já era assim antes da BR 230? A Transamazônica começou a ser construída nos anos 1970, com o objetivo de integrar o interior ao litoral. Quando a estrada chegou à região de Cajazeiras, a cidade já tinha estrutura urbana consolidada, mas a rodovia potencializou seu crescimento econômico e logístico. A BR 230 facilitou o transporte de mercadorias, o acesso a serviços e a mobilidade da população, além de atrair investimentos e melhorar a conexão com outras cidades do estado e do país. Portanto, a Transamazônica ampliou o alcance comercial de Cajazeiras, tornando-a ainda mais estratégica no sertão paraibano.

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Em Cajazeiras, ficamos hospedados na Pousada da Danda, no centro da cidade. Nossos agradecimentos a Giliane, que se prontificou a entregar livros de nossa autoria para a biblioteca da cidade Dr. Castro Pinto, que estava fechada por ser final de semana.

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