Depressão: o mal do século 21
Doença é a principal causa de suicídios no Brasil

A morte de Rosenilda Barbosa, que deixou o domingo de Páscoa em Heliópolis com gosto amargo, foi suicídio. Este desejo inexplicável de morrer é consequência de uma doença cada vez mais presente no nosso dia-a-dia: a depressão. Considerada o mal do século 21 pela Organização Mundial da Saúde, a doença ainda é um desafio para médicos e pacientes. A depressão é caracterizada pela perda ou diminuição de interesse e prazer pela vida, gerando angústia e prostração, algumas vezes sem um motivo evidente. Pior, ela é quase silenciosa.

O nadador Michael Phelps, por exemplo, revelou sofrer demais com o problema após as Olimpíadas de 2012, quando ganhou seis de suas 28 medalhas olímpicas. A adolescente Yasmim Gabrielle Amaral, que ficou conhecida nacionalmente há alguns anos por suas apresentações musicais no Programa Raul Gil, no SBT, também foi vítima da depressão. Morreu dia 21 de abril último e tinha apenas 17 anos. Ela também participava do quadro Eu e as Crianças e teve inúmeros momentos divertidos com o apresentador – chamava-o de ‘vovô Raul’. Uma vida de sucesso interrompida pelo suicídio. Não é, pois, uma doença reveladora de fracassados. Na verdade, ela não escolhe classe, posição social ou sexo. Hoje, a depressão é considerada a quarta principal causa de incapacitação, segundo a Organização Mundial da Saúde. Em Heliópolis, segundo dados do Ministério da Saúde, há 7,58 suicídios para cada 100 mil habitantes. Isso significa um suicídio a cada dois anos num município de poucos mais de 13 mil habitantes. No Brasil a média é de 5,01/100 mil.
A frieza dos números confirma os dados da realidade. Heliópolis foi abalada em 2014 com o suicídio de Milena Lima. Em 2016 Jorge do Tanque Novo enforcou-se numa das torres de transmissão de energia, próximo ao povoado. Agora, foi a vez de Rosenilda Barbosa. Todos vítimas da depressão. Esse transtorno psiquiátrico atinge pessoas de qualquer idade — embora seja mais frequente entre mulheres — e exige avaliação e tratamento com um profissional. O desânimo sem fim é fruto de desequilíbrios na bioquímica cerebral, como a diminuição na oferta de neurotransmissores como a serotonina, ligada à sensação de bem-estar.
Na nossa região, suicídio virou uma rotina. A cidade de Cícero Dantas tem o dobro dos casos de Heliópolis, ou seja 14,52 suicídios para cada 100 mil habitantes. Esses dados são de 2015 e carecem de atualização. Nesse período houve no município uma sequência de suicídios que assustou os cícerodantenses. O último deles foi o de José Valeriano de Jesus Santos, encontrado em sua residência, localizada na Rua Alto da Santa Cruz da cidade. Ele teria também utilizado uma corda para se matar. O corpo foi encontrado pelo irmão, Antônio de Jesus Santos.

Em Poço Verde, no estado de Sergipe, o último suicídio deixou a cidade extremamente abalada. Foi no dia 3 de outubro do ano passado. O estudante do Colégio Estadual Prof. João de Oliveira, Mateus Santos Costa, deu fim à própria vida. Ele chegou a dar algumas pistas. Numa rede social escreveu: “Se nem mesmo quando eu dou o meu melhor funciona pra que continuar tentando?”. Não há números oficiais que possam permitir um parâmetro para Poço Verde, mas a praga depressiva se espalha por todo o país. No Brasil, os números são preocupantes: de 2007 a 2016, 106.374 pessoas morreram em decorrência do suicídio. O Brasil registrou 11.433 mortes por suicídio em 2016 – em média, um caso a cada 46 minutos. O número representa um crescimento de 2,3% em relação ao ano anterior, quando 11.178 pessoas tiraram a própria vida. Em 2016, a taxa foi de 5,8 por 100 mil habitantes. De acordo com a publicação do Ministério da Saúde, o envenenamento é responsável por 18% das mortes, enquanto o enforcamento apresenta um índice de 60% dos óbitos. Do total de ocorrências, 70% das tentativas de suicídio por intoxicação aconteceram com mulheres.

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que o Brasil está em oitavo dentre os países com maior número de suicídios, atrás de Índia, China, Estados Unidos, Rússia, Japão, Coreia do Sul e Paquistão. Em taxas relativas (mortes por cem mil habitantes), o Rio Grande do Sul tem a maior taxa, com 10,2, seguido de Roraima, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina. Para cálculo do número de suicidas per capita, pela população brasileira, foram utilizadas as estimativas intercensitárias disponibilizadas pelo DATASUS que, por sua vez, utiliza fontes do IBGE. Para combater a epidemia depressiva, o governo realiza projetos de prevenção. O Ministério da Saúde afirmou que há Redes de Atenção Psicossocial (RAPS) em cidades onde há alto índice de suicídio: Manaus (AM), Campo Grande (MS), Boa Vista (RR), Teresina (PI), Porto Alegre (RS) e Florianópolis (SC).
Para identificação das mortes por suicídio foram levantados os óbitos por causas externas, registrados segundo o CID-10 (Classificação Internacional de Doenças-10) como Lesões autoprovocadas voluntariamente (categorias X60-X84). A OMS considera a prática do suicídio um problema de saúde pública e recomenda que países identifiquem os principais métodos que algumas pessoas usam para pôr fim à própria vida. Com isso, é possível restringir o acesso a esses meios. Outras medidas para prevenir esse tipo de morte é a implementação de políticas para limitar o consumo abusivo de álcool e drogas. Hoje se sabe que a depressão não promove apenas uma sensação de infelicidade crônica, mas incita alterações fisiológicas, como baixas no sistema imune e o aumento de processos inflamatórios. Por essas e outras, já figura como um fator de risco para condições como as doenças cardiovasculares.