Dia do Professor: Hora de encarar a realidade
Numa rápida passagem pelas redes sociais e portais de notícias, colhi algumas visões sobre este Dia do Professor. A maioria, claro, em tom otimista, não poupam adjetivos elogiosos para marcar o papel deste importante profissional na formação de gerações. Também vejo que aproveitaram a data para reflexões sobre a valorização da profissão e debates sobre o uso da tecnologia na educação. A data, celebrada em 15 de outubro, não é feriado nacional, mas é feriado escolar. E aqui cabe uma reflexão: apesar de todos reconhecerem o papel do professor, por que governantes insistem em não cumprir até mesmo as leis que beneficiam a categoria?
Parece um abismo, pois, ver escolas e universidades promovendo atividades especiais, como apresentações, mensagens de agradecimento e eventos de reconhecimento aos docentes, enquanto uma decisão da Justiça sobre a URV, que beneficiaria professores, completa 25 anos sem ser concretizada.
É igualmente incoerente ver plataformas digitais e redes sociais sendo usadas por alunos para criar homenagens com o auxílio da inteligência artificial, destacando o papel dos professores na formação de cidadãos e no estímulo ao pensamento crítico, ao mesmo tempo em que o governo baiano não paga o piso determinado em lei a boa parcela dos professores ativos e aposentados.
Enquanto esta data está sendo usada como um momento para pensar sobre o papel da IA na sala de aula, com professores orientando os alunos sobre o uso ético e produtivo dessas ferramentas, há prefeitos que preferem a contratação direta de profissionais para atuar na educação e não abrem concurso público para escolha dos melhores e mais bem preparados.
É salutar ver que o Centro do Professorado Paulista publicou um artigo destacando o Dia do Professor como um convite à reflexão sobre os rumos da educação brasileira, especialmente nos anos iniciais do ensino fundamental. Entretanto, o que se vê na maioria dos casos é o silêncio sobre o péssimo desempenho da escola pública e o uso de instrumentos artificiais para disfarçar o nosso fracasso, como por exemplo a aprovação automática.
Segundo o IBGE, o Brasil conta com 2,3 milhões de professores, sendo que as mulheres representam a maioria em quase todas as áreas da educação. No ensino fundamental, elas são 82,3% dos docentes. A discussão sobre salários e condições de trabalho também ganhou destaque, com comparações entre os rendimentos de homens e mulheres na profissão, mas ninguém, nas três dimensões de governo, pensa na solução definitiva dos problemas. Afinal, haverá eleições o ano que vem e a falácia funciona melhor.
Vale saber que a origem da data do Dia do Professor foi instituída em homenagem ao decreto de Dom Pedro I, de 15 de outubro de 1827, que estabeleceu o Ensino Elementar no Brasil. A oficialização da comemoração só ocorreu em 1947, exatos 120 anos depois. Será que teremos que esperar mais centenas de anos para que os nossos dirigentes públicos coloquem em prática a ideia da educação como recurso primordial, ao lado da saúde, para o desenvolvimento de qualquer sociedade. Não basta elogiar o professor, tem que fazer valer cada lei que consolide todo o processo em torno da educação.
Em suma, o elogio das pessoas será sempre bem vindo, mas elogios de políticos e agentes públicos, que estão com as soluções em mãos e nada fazem para resolver este caos, são dispensáveis. Estes últimos soam mais como propaganda, como alimento para um mundo de faz-de-conta, que só servirão para consolidação de carreiras políticas. Não precisamos de políticos que digam o que já sabemos, mas de agentes públicos que resolvam os males que sempre nos empurram para o mundo ignorância.
Landisvalth Lima
