Fronteiras – Piauí: 90 anos de jovialidade

Chegamos ao Piauí pela BR 230. De Campos Sales, no Ceará, até a divisa com o Piauí são exatos 10 kms. O marco com as placas alusivas à divisão estava lá, mas não dava para ver muita coisa. A ação do tempo e a falta de manutenção fizeram as letras fugirem. Por sorte temos o Google Street view. Verificamos que em setembro de 2024 dava para identificar alguma coisa e trouxemos a fotos para o documentário. Depois da divisa, 15 kms depois, chegamos à cidade de Fronteiras.
Fronteiras é um município do Leste piauiense, ainda dentro da região do Cariri, com uma área territorial de 777,179 km², registrando uma população de 10.259 pessoas, censo de 2022, e densidade demográfica de 13,20 hab/km². Fronteiras faz limites com Pio IX, São Julião, Caldeirão Grande do Piauí e Alegrete do Piauí – todos no Piauí; Campos Sales-CE e Salitre, ambos no Ceará. Fica distante de Teresina por 406 km e sua população estimada pelo IBGE para este ano de 2025 é de 10.344 pessoas.

A história da formação do município de Fronteiras começa há mais de dois séculos, com o desbravamento da região e implantação da Fazenda Lagoa do Rato, concedida em sesmaria a Rita Alves dos Reis, descendente de índios, casada com Manoel Pinto de Meireles, descendente de portugueses. Esta família formou o primeiro núcleo de moradores do lugar. Só de filhos foram dez. Entre eles está João Batista de Souza, alferes da Casa-mór de Oeiras, na época capital da Província do Piauí, e herdeiro da Casa Grande, construída por seus pais. Com a morte de João Batista, a Casa Grande passou a ser propriedade de seu filho, Manoel Batista de Souza, que doou uma área para a construção da capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, atual igreja matriz de Fronteiras, obra iniciada em 1907 e concluída em 1910.
O primeiro nome de Fronteiras, por influência da fazenda de Rita Alves dos Reis, era Rato. Quando a igreja foi inaugurada e abençoada, o nome passou a ser Socorro, a partir de 1910. Com crescimento visível, 25 anos depois foi elevado à categoria de município e distrito com a denominação de Socorro, pelo decreto-lei estadual nº 1645, de 16 de abril de 1935, desmembrado de Patrocínio. Socorro tinha um só distrito e foi instalado em 09 de julho de 1935. Em dezembro de 1943, uma lei impedia a duplicidade de nomes de cidades e municípios. Daí veio o decreto-lei estadual nº 754, de 30 de dezembro de 1943, e o município passou a se chamar Fronteiras.

Na mesma época do surgimento da fazenda Lagoa do Rato, mais ao norte, tinha uma fazenda localizada onde hoje é o povoado Alecrim. Este era uma das fazendas de Bárbara Alencar, heroína da Revolução Pernambucana de 1817. Foi nesta fazenda, em território de Fronteiras, bem próximo à divisa com o Ceará, que Bárbara morreu. Tinha 72 anos. Foi sepultada 14 kms depois, no Ceará, na igreja do distrito de Itaguá, em Campos Sales. A trajetória desta heroína será retratada no livro 3 de Cariri Sangrento. O livro 1 já está disponível em várias livrarias e o Piauí está presente com a história do índio Mandu Ladino.
E ainda falando de Fronteiras, todo fronteirense deve se orgulhar da cidade que tem. Embora peque pelas poucas árvores, é um centro urbano limpo, organizado e bem cuidado. Quem a visita pela primeira vez parece se tratar de uma cidade jovem e dinâmica. É difícil acreditar que ela chegou aos 90 anos. Se continuar sendo cuidada, nunca parecerá velha. E não devemos confundir as coisas, o patrimônio urbanístico precisa ser preservado e restaurado para continuar sempre jovial. E isso parece que Fronteiras sabe fazer como ninguém.