O ódio que cega

Será que ainda tem algum apoiador de Bolsonaro que acha que a política que faz o ex-presidente inelegível é uma ação de amor ao Brasil? Tem sim, e são muitos. O motivo é um só: o ódio!
A gente sabe que o Lula não é lá essa coisa toda, mas convenhamos, não existe hoje no Brasil político mais nocivo ao país que Jair Bolsonaro. Ele sacrificaria até os próprios filhos para se livrar da cadeia. O Brasil para ele é só mais uma forma de processar o poder pelo ódio.
Quem tem apenas um neurônio sabe que a nova tarifa de 50% sobre produtos brasileiros anunciada pelos Estados Unidos vai muito além de uma simples medida comercial — ela carrega um forte componente político e estratégico. O presidente Donald Trump justificou a medida com alegações de que o Brasil estaria promovendo “ataques insidiosos contra eleições livres” e violando a liberdade de expressão de empresas americanas. Ele também criticou o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, chamando-o de “caça às bruxas”.

Como um discurso desse pode convencer alguém no Brasil? Só com o tempero do ódio a uma suposta esquerda, ainda supostamente comunista. O absurdo é que, apesar de os EUA terem um superávit comercial com o Brasil — ou seja, vendem mais do que compram — Trump alegou que o Brasil mantém barreiras comerciais injustas. A tarifa seria uma forma de “corrigir” essa relação, segundo ele.
Outro absurdo do trumpismo é que o governo americano iniciou uma investigação da Seção 301, que permite ações unilaterais contra práticas comerciais consideradas desleais. Isso pode abrir caminho para ainda mais sanções. Trump sabe que o Brasil é o maior parceiro comercial entre os países afetados pelas novas tarifas, e o único com déficit comercial com os EUA. Isso torna a decisão ainda mais incomum e sinaliza que há um recado político embutido.
Da parte do governo brasileiro, o presidente Lula defendeu recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC) e sugeriu aplicar a Lei da Reciprocidade, que permite retaliar com tarifas sobre produtos americanos. Entretanto, especialistas alertam que a medida pode prejudicar setores-chave da economia brasileira, como carne, café, suco de laranja e aeronaves. Há também o risco de uma escalada tarifária, já que os EUA prometeram aumentar ainda mais as taxas se o Brasil retaliar.
No fim de tudo, se esse cenário perdurar, são os americanos e brasileiros que pagarão a conta. O suco de laranja, o café e a carne terão preços absurdos em terras ianques. O consumo vai cair e as empresas exportadoras no Brasil vão ter que demitir trabalhadores. Todos perdem, menos os Bolsonaro. Estes continuarão manipulando o ódio dos brasileiros contra os brasileiros em nome de uma ameaça comunista que nunca chegou, em nome de uma falsa liberdade que sempre esteve aí e é usada contra a liberdade propriamente dita. Além do mais, o nacionalismo tosco bolsonarista é inédito por amar o Brasil mesmo que este se ajoelhe a uma nação como os EUA. Só o ódio para achar que isso tem sentido.