O pau da bandeira
Marcelo Torres*
Ontem, no insosso empate de zero a zero entre Equador e Brasil, jogo que marcou a estreia de Carleto Ancelotti no comando do escrete canarinho, quem mais chamou a atenção não foi nenhum craque, não foi nenhum dos artistas do espetáculo, mas sim um simples objeto — o pau da bandeira.
Na transmissão pelo SporTV, narrador e comentarista falavam como se aquele detalhe fosse desprezível, e como se o jogo pudesse continuar com o pau caído — porém uma partida não pode começar se estiver faltando algum dos piquetes dos quatros cantos do campo.
Enquanto o bendito pau não fosse fincado na quina do campo de jogo, a partida não recomeçaria, por mais banal, por mais patético que possa parecer esse detalhe.
De vez em quando, numa mesa de bar, eu lanço uma perguntinha boba aos aficcionados pelo ludopédio: “Você sabe para que serve o pau da bandeira?”. É verdade que alguns respondem certo, mas a maioria não sabe a serventia de tal objeto no campo.
Aliás, a mesma pergunta (“para que serve” ou “para que servem”) pode ser feita em relação a qualquer um dos itens do campo de jogo — as traves, as linhas, a meia-lua, o círculo central, a marca do pênalti e a grande e a pequena áreas.
Porque, ali, tudo tem uma função específica, uma razão de existir. Mas o assunto, aqui, é o pau da bandeira, porque foi ele que roubou a cena no pavoroso espetáculo de ontem, deixando o jogo parado por eternos quatro minutos.
E vamos à resposta: o glorioso pau da bandeira só serve para demarcar/delimitar a saída de bola (para se saber se ela saiu pela linha de fundo ou pela linha lateral).
Isto porque, caso ele não estivesse ali, a bola poderia sair exatamente na quina, e a arbitragem, não sabendo por onde a pelota teria saído, não saberia o que marcar.
Se bola de ataque, o árbitro ficaria na dúvida entre o lateral e o escanteio. No caso de bola da defesa, a dúvida seria entre tiro de meta e arremesso lateral.
Vocês podem até duvidar, mas, para mim, o que salvou a pelada de ontem foi aquela cena besta de nada, o pau da bandeira caído e aquela força-tarefa para colocá-lo no buraco. Foi a única coisa digna de nota na estreia de Carleto Ancelotti.