Pastos Bons – Maranhão, a cidade quase capital de um estado

Neste episódio de BR 230 – Transamazônica – de Cabedelo a Lábrea, Contraprosa chega a Pastos Bons, uma cidade que quase chegou à capital de uma república. Antes de contar essa história, vamos aos dados gerais deste município do estado do Maranhão. Pastos Bons tem uma área territorial de 1.635,181 km², que abriga hoje uma população de 18.802 pessoas, censo de 2022, o que permite uma densidade demográfica de 11,50 hab/km². O município faz divisas com Passagem Franca, Nova Iorque, Sucupira do Norte, Paraibano e São João dos Patos. A distância para São Luís é de 550 km e o IBGE estimou sua população para este ano de 2025 em 19.266 pessoas.
A região onde se localiza a cidade de Pastos Bons foi a primeira a ser colonizada na região sul do Maranhão. Seus primeiros colonizadores foram os bandeirantes que partiam do interior do Ceará, da Bahia e de Pernambuco à procura de índios para servir de mão de obra escrava no litoral, e de terras para o cultivo. No local foi formado um destacamento militar para garantir a posse das terras e controlar os nativos. Virou o lugar um vilarejo importante e que abrigava grande quantidade de colonos em busca de terras. Outras regiões ao seu derredor receberam pouca ou nenhuma atenção da capital e isso acabou por isolar Pastos Bons.

A situação social agravou-se com os problemas de estiagem, exploração desordenada da terra e conflitos entre latifundiários e pequenos agricultores. São Luís ficava distante e o contato maior era com Oeiras, no Piauí. Ninguém sabe ao certo como nasceu a ideia, mas falavam em independência em relação ao Brasil e Portugal. A República dos Pastos Bons foi um estado não reconhecido, instituído nas Regiões Nordeste e Norte do Brasil. Embora tenha sido por mais de três vezes declarado independente em relação ao Império do Brasil, nunca foi reconhecido por nenhuma entidade nacional. A primeira ideia seria uma região constituída dos territórios do sul do Maranhão, sudeste do Grão-Pará, norte do Goiás e sul do Piauí. Com o advento da era republicana no Brasil, reformula-se o movimento, clamando pela formação do estado de Pastos Bons.
Não deu certo como república nem como estado, mas o fato é que Pernambucanos, cearenses e baianos, inclusive os que tentaram construir a Confederação do Equador, fizeram a transposição do rio Parnaíba, fundaram uma vila à qual deram o nome de Pastos Bons. Os primeiros povoadores chegaram por volta de 1764. Já havia, portanto, antes de 1779, o distrito de Pastos Bons. Tempos depois é elevado à categoria de vila, ou seja, município, com a denominação de Pastos Bons, por Alvará de 29 de janeiro de 1820, desmembrado de Caxias. Ou seja, em 2025, Pastos Bons chega aos 205 anos de fundada.

Mas a coisa não foi fácil. A quase futura capital de um país ou quase futura capital de um estado chegou a um tempo que nem mesmo cidade ficou. Pela Lei Provincial nº 386, de 30 de junho de 1855 o município é extinto. Só que foi recriado pela Lei Provincial n.º 575, de 11 de julho de 1860. Como perseguição pouca é bobagem, outra lei nº 898, de 11 de julho de 1870, é novamente extinta a vila, sendo seu território anexado mais uma vez ao município de Mirador. Dez anos depois, pela Lei Provincial nº 1.206, de 09 de março de 1880, Pastos Bons é elevado novamente a vila, desmembrado do município de Mirador e oficialmente reinstalado em 18 de novembro de 1880. Ao longo dos anos, o município ganhou e perdeu distritos e territórios e hoje se encontra com apenas 2 distritos: Pastos Bons, a sede – e Roçado.

Vale dizer que não aconteceu só em Pastos Bons esse ideário de república. Foram várias revoltas a partir da Revolução Pernambucana de 1817. Ao longo do ano de 1828 o movimento pela república de Pastos Bons ganhou força e apoio, ao lado de diversas outras, principalmente nas cidades de Afogados e Santo Antão. Naquele mesmo ano, em fevereiro de 1828, foi proclamada a República Pernambucana. D. Pedro I decretou a prisão de todos os líderes republicanos e imposição de censura na região. Aconteceram outros movimentos mais tarde. Com a transferência da comarca de Pastos Bons para Grajaú, medida para enfraquecer os republicanos, a luta também mudou de lugar. Em 1835, Militão Bandeira de Barros, Juiz de Paz da Chapada do Bonfim – atual Grajaú, propagou entre a população e os políticos da região, os ideais republicanos. Com o apoio que desejava, proclamou a República dos Pastos Bons, mas ela nunca saiu do papel.
Os ideais republicanos nasciam também quando a necessidade batia na porta. Diante da crise do algodão, que assolou o Maranhão entre as décadas de 1830 e 1840, levando inúmeros sertanejos pobres, escravos e prisioneiros a viver em situação de extrema miséria e abandono, explode a maior revolta popular já acontecida em terras maranhenses e piauienses, a Balaiada, em Caxias. O clima de insatisfação popular se agravou e em 1840, ainda durante os acontecimentos da Balaiada, explode no alto sertão – nas cidades de Grajaú, Barra do Corda, Carolina e Pastos Bons– a revolta de 1840. Os sertanejos se levantaram contra a Guarda Nacional e atacaram os presídios, libertando os prisioneiros. Em seguida, saques e depredações em diversos edifícios públicos aconteceram.

Com a república finalmente implantada no Brasil, a região passou a ser esvaziada com o processo de migração. Pastos Bons sempre resistiu a tudo e, inclusive, com a chegada da Transamazônica, muitos foram tentar a vida no Norte, sem jamais abandonar o seu lugar em definitivo. O centro histórico fica um pouco afastado da rodovia, por pouco mais de 1 km, mas quem o visita pode sentir nos seus casarões o período de ouro, onde foi possível sonhar com um novo país. Hoje, é possível olhar para cada pastos-bonenses e ver cada sonho brilhar na luta diária em garantir o sol do amanhã.
