Cidades do Velho Chico

Porto Real do Colégio

Matriz de Nossa Senhora da Conceição

Em mais um episódio da série Cidades do Velho Chico, hoje vamos ao estado de Alagoas para retratar a cidade de Porto Real do Colégio. O município teve sua população no censo de 2022 oficializada em 20.082 habitantes, revelando constante crescimento, já que em 1890 havia 7.497 habitantes, pulando em 1996 para 17.557 pessoas. Porto Real do Colégio faz limites com São Sebastião, Feira Grande, Igreja Nova e São Brás – todos em Alagoas, e Propriá, Cedro de São João e Telha, em Sergipe. A área municipal atinge 235,852 km², com densidade demográfica de 85,1 hab./km². Duas rodovias servem seus moradores: a BR 101 e a AL 115. A cidade fica distante de Maceió por cerca de 170 km.

O povoamento de Porto Real do Colégio começa em meados do século XVII. As tribos de índios Tupinambás, Carapotas, Aconãs e Cariris habitavam a região primitivamente. Elas viviam da caça, pesca e da lavoura. Os bandeirantes da Bahia desceram o rio São Francisco em companhia dos padres jesuítas, encarregados da catequese dos gentios e foram os primeiros brancos a pisar o aldeamento que ficava à margem do Velho Chico. Há registros de que esses bandeirantes e jesuítas adquiriram na referida região uma extensa faixa de terra com o nome de Urubu-Mirim, para diferenciar de Urubu, hoje Propriá, localizada no lado sergipano do rio. Os jesuítas conseguiram aos poucos fixar as tribos indígenas nos arredores da sede, apesar das lutas travadas entre os Cariris, os Aconãs e os bandeirantes recém chegados.

Orlinha do São Francisco

Os jesuítas então ergueram, no cimo de uma colina, uma capela rústica sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição, em torno da qual começou a florescer o novo núcleo populacional. Em meados do século XVII, fundaram um convento e um colégio na frente da capela, hoje matriz de Nossa Senhora da Conceição, do lado sul da margem esquerda do rio São Francisco. No livro Memória histórica da fundação dos conventos da Província das Alagoas, de Pedro Paulino da Fonseca, diz que o tal colégio ensinava línguas, entre elas o latim. Os jesuítas eram provenientes dos Colégios da Bahia e de Pernambuco e estabeleceram duas aldeias para fins de catequese, de acordo com a Lei de 4 de junho de 1703. Esta lei se baseava no Alvará Régio de 1700, que determinava que cada missão teria uma légua em quadra para a sustentação dos índios e missionários. A aldeia de Colégio estava a sete léguas de Penedo e a cerca de duas léguas de São Brás.

Com a expulsão dos jesuítas em 1759, suas fazendas de gado foram arrematadas em hasta pública e as terras destinadas para a catequização e sustentação dos missionários foram tomadas pelo Império, expulsando os índios de seu antigo lar e forçando-os a buscarem novas aldeias. Na aldeia de Colégio viviam Cropotós, Cariris, Aconãs, Xokós e Prakiós. Com a política de desqualificar as populações indígenas, as aldeias são extintas em 17 de julho de 1873 pelo Ministério de Agricultura, Comércio e Obras Públicas. Entretanto, o povo fica na região e começa a formar as povoações em torno do rio, com a fusão das três raças: o branco desbravador, o negro e o índio, verdadeiro dono das terras.

Manumento ao pescador na orla do Velho Chico

O povoamento se formou em torno do Colégio dos jesuítas que tinha o nome de Real. Há documentos onde aparece o nome Colégio do Porto Real, como é o caso de Lei nº 702, de 19 de maio de 1875, onde o vice-presidente da província das Alagoas, bacharel Felipe de Melo Vasconcelos, no artigo 1º da citada Lei, que cita a criação da freguesia de São Brás, desmembrada da do então Colégio do Porto Real. No ano seguinte, Porto Real do Colégio é elevado à categoria de vila  pela lei provincial nº 737, de 07 de julho de 1876, desmembrado de Penedo. O município foi instalado em 18 de novembro daquele ano.

O crescimento da povoação era lento, mas constante, até que, em 1950, foi inaugurada a estação ferroviária de Porto Real do Colégio, também chamada simplesmente de Colégio. Era o ponto final do ramal de Palmeira dos Índios, pois ali o rio São Francisco, sem ponte ferroviária até 1972, obrigava a tomada de balsas, iniciada a partir de 1963. No ano de 1967, começam a operar os ferry-boats, transportando passageiros e cargas para Sergipe, Salvador, e o sul do País. Naquele mesmo ano, a ponte chegou e os trens da RFFSA puderam fazer a ligação pela linha diretamente. Com a ponte, a empresa ferroviária transferiu seu terminal para a cidade sergipana de Propriá. Daí, o hotel de Colégio, construído pela ferrovia, fechou porque os carros, com a ponte, passaram a seguir direto para Propriá, o que levou ao fechamento da estação ferroviária de Colégio.

Praça Rosita de Goes Monteiro

Em 1978, os Kariris-Xokós, depois de séculos de luta, conseguiram reaver uma pequena parte de suas terras, que estavam em grande parte sob a administração da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba – CODEVASF. A FUNAI auxilia aos poucos a construção das casas na nova aldeia. Assim, os índios foram abandonando o que era denominado Rua dos Índios, no centro de Porto Real do Colégio, onde viviam marginalizados e isolados junto aos não-índios. Em 1991, o pequeno território foi demarcado permanentemente. Hoje, a aldeia é um bairro de Porto Real do Colégio e fica localizada a pouco mais de 1 km da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, sempre às margens do São Francisco.

Ao chegar na cidade de Porto Real do Colégio, vale uma visita à Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, de valor artístico e histórico incomensurável. Lá estão as imagens de Nossa Senhora da Conceição, a padroeira do município, Jesus Crucificado, Santo Antônio, São José e São Vicente, todas nos principais altares do interior do templo. Ao lado da igreja, um conjunto arquitetônico é formado na praça Rosita de Goes Monteiro – onde estão situados a Cadeia Pública, a Casa Paroquial, a Prefeitura, o coreto e casarões em estilo colonial. Além disso, há a antiga sede da Rede Ferroviária e os armazéns. Para a diversão e o relaxamento, fugindo do estresse e da vida agitada, Porto Real do Colégio tem a orlinha no Rio São Francisco e várias ilhas fluviais para visitas em canoas de velas ou motor. Não pode faltar uma visita à aldeia Kariri-Xocó, onde os índios praticam danças tradicionais como o Toré e desenvolvem o artesanato em barro, coco, madeira e ossos.

Para assisitr no YouTube o vídeo sobre Porto Real do Colégio, dê um clique aqui.

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