Um Lugar no Sertão

Riachão do Dantas – Sergipe, cidade de Francisco J C Dantas

Memorial de Riachão do Dantas leva nome do seu maior escritor. (Foto: Landisvalth Lima)

  Em mais um episódio de Um Lugar no Sertão, Contraprosa vai registrar um dos municípios com as temperaturas mais frias de Sergipe: Riachão do Dantas. A menor temperatura registrada em Riachão do Dantas foi de 12 °C. Esse valor foi considerado a menor temperatura já registrada oficialmente no estado de Sergipe, segundo reportagem do Jornal Nacional. O evento foi notável por surpreender os moradores da cidade, que estão acostumados a um clima quente e úmido, típico do interior nordestino. Já há quem apelide o lugar de Suíça sergipana. Claro que essa baixa temperatura foi uma excepcionalidade, mas a média mais baixa está em torno dos 17 graus.

   Riachão do Dantas tem uma área territorial de 530,607 km² e registrou uma população no último censo de 2022 de 18.313 pessoas. Sua densidade demográfica, portanto, é de 34,51 hab/km² e faz limites com os municípios de Lagarto, Tobias Barreto, Simão Dias, Itabaianinha, Boquim e Pedrinhas. É servido pelas rodovias BR 349 e SE 285, ambas em estado razoável. A distância para Aracaju é de 99 kms e o IBGE estimou sua população para este ano de 2025 em 18.541 pessoas. O município é banhado pelo riacho do Limeira, um afluente do rio Piauitinga e em suas terras, no distrito Palmares, nasce um dos principais rios da Bacia Hidrográfica do Estado de Sergipe, o rio Piauí.

Igreja matriz dedicada a N. Sra. do Amparo. (Foto: Landisvalth Lima)

   A história de formação de Riachão do Dantas começa com a colonização de Sergipe. Por volta de 1596 chegam os colonizadores pelos rios Real e Piauí. Domingos Fernandes Nobre, Antônio Gonçalves de Santana e Gaspar Menezes, todos eles receberam terras no vale do rio Piauí, mas a colonização das terras onde se encontram hoje o município não deu origem a conglomerados urbanos, até o início do século XIX. Eram apenas fazendas para criação de gado e engenhos de açúcar.  No local onde está situado o atual Município de Riachão do Dantas existiam, no início do século XIX, diversos engenhos de açúcar, destacando-se o de nome Fortaleza, pertencente ao Coronel João Dantas Martins dos Reis, de grande prestígio político na província e no sertão da Bahia, chegando inclusive a ser vice-presidente da província de Sergipe.

   A urbanização propriamente dita de Riachão do Dantas se deve a uma figura: João Martins Fontes. O povoado surgiu em suas terras, a fazenda Riachão, com a construção das primeiras casas e de uma pequena capela. O primeiro nome do lugar é o mesmo da fazenda e teve início no começo do século XIX. João Martins Fontes ergueu uma capela dedicada à Nossa Senhora do Amparo, mesmo antes de se mudar definitivamente para o local, já que morava em Itabaianinha. Ao redor da capela tosca, foram construídas as primeiras moradas. Em 1836, João Martins Fontes veio para Riachão. O templo rústico ganhou detalhes para representar o poderio dos fazendeiros e da igreja católica. O crescimento foi se concretizando com a chegada de escravos forros, ou livres, e famílias de comerciantes.

Praça central de Riachão do Dantas. (Foto: Landisvalth Lima)

  Com o início da povoação ao redor da Capela dedicada a Virgem do Amparo, começam também a surgir os primeiros sítios e engenhos vizinhos, com isso o povoado foi aumentando e em 1848 foi criada uma escola para meninas, pela Resolução Provincial nº 221, de 22 de maio. Em 1854, foi criado o distrito de subdelegacia.  No ano seguinte, foi criado o distrito de Riachão, pela Resolução Provincial n.º 419, de 27 de abril de 1855, vinculado ao município de Nossa Senhora da Piedade do Lagarto. Com a morte de João Martins Fontes, seus herdeiros doaram a Nossa Senhora do Amparo as terras onde a igreja estava situada, desde que fosse transformada em Igreja Matriz. Para garantir o feito, doariam também uma quantia anual 24 mil réis até o dia que virasse matriz. Para isso acontecer, Riachão teria que virar vila, ou seja, município. Isso aconteceu pela Resolução Provincial n.º 666, de 13 de maio de 1864, elevado à categoria de vila com a denominação de Riachão, desmembrado do município de Lagarto, com um único distrito. A instalação só correu 6 anos depois, em 09 de maio de 1870, isso porque numa Resolução Provincial de nº 730, de 15 de maio de 1865, 1 ano depois da criação do município, a vila de Riachão foi extinta, sendo seu território reanexado ao município de Lagarto. A lei da restauração do município foi assinada no mesmo dia da instalação, a de nº 888, de 09 de maio de 1870. Somente no Decreto de nº 533, de 07 de dezembro de 1943, o município de Riachão passou a denominar-se Riachão do Dantas. Com a criação do distrito de Palmares, hoje o município tem 2 distritos: Riachão do Dantas, a sede – e Palmares.

   Visitar Riachão do Dantas em época junina é uma festa só. O município é conhecido por sua forte tradição nas festas juninas, que enfeitam a cidade com bandeiras e decorações, sendo um importante evento popular. A cidade também é conhecida pela história do bode Bito, que costumava frequentar os enterros da cidade. Após sua morte, a cidade erigiu uma estátua em sua homenagem, e sua história já foi destaque em programas de televisão. O município celebrou seus 155 anos em maio deste ano, com uma programação especial e a valorização de sua história e identidade.

Riachão do Dantas vista do Memorial Escritor Francisco Dantas. (Foto: Landisvalth Lima)

  Para quem não sabia, os mais consagrados filhos ilustres de Riachão do Dantas foram Horácio Dantas de Goes – político, ex-presidente da Assembleia Legislativa de Sergipe e ex-governador interino do Estado; João Oliva Alves – jornalista, escritor e ex-secretário de imprensa do governo Seixas Dória; Lourival Fontes – embaixador e chefe da Casa Civil no governo do presidente Getúlio Vargas; Arivaldo Silveira Fontes – militar, professor e escritor; e o premiado Francisco J. C. Dantas, professor da UFS e escritor, autor de vários romances, entre eles os consagrados Os Desvalidos e Coivara da Memória.

   E por falar em Francisco Dantas, Riachão do Dantas tem sua academia de letras e seu dia de Literatura. A ARLAC – Academia Riachoense de Letras, Arte e Cultura, fundada em 2022, está em pleno vapor. Teve até Aula Magna com a escritora e professora Maria Lúcia Dal Farra, o ano passado, em comemoração aos 2 anos de fundada. Também há o Dia da Literatura em Riachão do Dantas e é lei aprovada pelo Legislativo Municipal, dia 18 de outubro, que é data de nascimento de Francisco J. C. Dantas. Inclusive, o município realizou a segunda edição de sua Feira Literária, do dia 15 a 18 de outubro deste ano.

Clique na imagem acima para assistir ao documentário no YouTube.

  A relação do município com o escritor Francisco Dantas é hoje muito forte. No mais recente livro do escritor, Liturgia do Ocaso, lançado em 2024, a obra é dedicada à ex-prefeita Simone A. F. Silva, conhecida por Simone de Dona Raimunda, que teve que disputar em 2016 duas eleições para oficializar seu nome como prefeita. Além dela, o autor dedica ao professor José Renildo Nascimento Santos e à equipe fundadora da ARLAC: Edleide Santos Roza, Manoel Ribeiro Andrade, Joana Santos de Carvalho, Lucas da Silva Andrade e Lucas Santos Silva. Além disso, estão organizando um Memorial do município e o nome escolhido foi de Francisco J. C. Dantas, uma homenagem para lá de merecida.

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