Santa Brígida, a cidade que nasceu do amor, da saudade e da fé!
inclusive tive que parar o carro para esperar passar uma tempestade que caiu
sobre o sertão num verão passado. Mas o nome Santa Brígida povoava o meu
pensar. Até que já conhecia a sua história, mas seria uma ingratidão contar se
ter ido ao lugar. Como não gosto de meias verdades, no sábado, 21 de janeiro de
2023, resolvi fazer o trajeto do KM 40, passando por Santa Brígida, indo até o
Riacho do Minuim, na divisa com Sergipe, passar por Canindé, chegar até
Piranhas e encerrar a visita conhecendo Olho D’água do Casado. Vamos começar
hoje por Santa Brígida.
São poucos os municípios do Brasil que surgiram motivados
pelo amor. Santa Brígida surgiu pelo amor de um homem por uma mulher, temperado
com a saudade. Longe de ser música romântica, é uma história real. O português
Antônio Manoel de Souza era proprietário de uma fazenda de quatro léguas
quadradas no município de Itapicuru. Vale lembrar que toda essa região era
Itapicuru, até a Vila de Jeremoabo se formar no final do século 17. A fazenda
era localizada exatamente onde hoje está o município de Santa Brígida. Só que o
português era casado com uma senhora brasileira muito bonita e totalmente
dedicada a ele. O nome dela: Brígida.
O grande sonho da esposa era conhecer Portugal, a terra do
marido. E por que não, ora pois! Antônio Manoel não só aprovou a ideia como já
tinha motivo para matar a saudade do seu povo. Mas o destino foi cruel para
Brígida, que morreu durante a viagem, que naquela época demorava meses. Com a
morte da esposa, tudo perdeu sentido para Antônio Manoel. Inconformado,
resolveu doar suas terras para o sogro Joaquim José do Bonfim. Na hora da
transferência da escritura, pediu ao sogro que desse nome às terras do
Itapicuru de Cima de Santa Brígida. Era o dia 16 de julho de 1817.
Cem anos depois, a fazenda Santa Brígida já formava um
pequeno núcleo urbano com casas feitas de barro e cobertas de palha. As pessoas
viviam das crias de meia e da agricultura familiar. O nome começa a aparecer
com as passagens de Lampião pelo lugar, protegido pelo Coronel João Sá. Mas o
povoado acanhado, nascido nas terras doadas pelo amor de Brígida precisava de
algo mais para ganhar corpo e virar uma povoação de alto porte. Foi aí que, em
1942 já se tinha notícia de uma romeiro que peregrinava por vários estados do
Nordeste pregando a palavra de Deus, na mesma tocada de Antônio Conselheiro,
morto na Guerra de Canudos 45 anos antes. Depois da autorização do coronel do
lugar, o João Sá, chega à povoação de Santa Brígida o penitente Pedro Batista
da Silva. Depois de efetuar curas e espantar os maus agouros, seu nome se
espalhou pela região. O beato de barba e cabelos grisalhos virou Padrinho Pedro
Batista, que veio morar definitivamente em 1945.
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O Beato Pedro Batista |
pulo significativo. Chegou a ter no início deste século mais de 18 mil habitantes.
Em 2010 caiu para pouco mais de 13 mil habitantes. A falta de emprego em época
de grande estiagem faz o povo ir a busca de oportunidades em outras plagas.
Hoje, Santa Brígida tem uma população em torno dos 15 mil habitantes, o que
triplica em épocas de romaria. No canal Cangaço na Literatura, do professor
Robério, lá de Itabaiana – SE, há um programa especialmente dedicado à romaria.
Assista clicando A Q U I. Também há um blog do escritor João de Souza Lima que
trata da biografia de Pedro Batista. Para ver é só clicar A Q U I.
Os devotos vinham para Santa Brígida pedir ao Padrinho Pedro
Batista morar no município. Muitos até ofereciam dinheiro para conseguir a
bênção dele. Pedro sempre dizia: “Não tragam sacos de dinheiro, mas dois sacos
de paciência!”. Era ele quem resolvia tudo e pedia sempre para que não houvesse
discórdia, violência e tudo que prejudicasse a convivência das pessoas. A
história toda pode ser vista na Casa Pedro Batista, localizada em frente à
praça onde está uma enorme estátua erguida em sua homenagem. Ele morreu em 1967,
aos 80 anos, e até hoje os romeiros exaltam seu nome. A obra de Padrinho Pedro
Batista continuou após a sua morte. Madrinha Dodô, nascida no povoado Moreira,
em Água Branca – AL, resolveu acompanhar o beato nos trabalhos comunitários de
atendimento ao povo pobre e sofrido da região. Foi a pessoa mais próxima dele.
Com a morte de Pedro, Madrinha Dodô assumiu a obra social e religiosa do beato.
Passou a ser respeitada também pelos romeiros, só perdendo em popularidade para
o próprio. Tem uma pequena estátua dela próxima à do beato, na mesma praça,
próximo à Igreja de São Pedro. Madrinha Dodô morreu em 1998, aos 96 anos. Está
sepultada ao lado do Padrinho Pedro Batista.
É impossível pensar em Santa Brígida sem falar de Pedro Batista.
A emancipação do município foi possível por ele ter feito o pedido às
autoridades. O município nasce em 27 de
julho de 1962, separando-se de Jeremoabo. Hoje, a cidade está servida pela BA
305, que liga a BR 110 à sede municipal, num percurso de 15 kms. A BA 305 segue
em cascalho até o município de Pedro Alexandre. Três quilômetros após a cidade,
há uma estrada vicinal de 7 km até o riacho do Minuim, que separa a Bahia de
Sergipe.
Antônio Manoel e sua Brígida, Pedro Batista e Madrinha Dodô.
Dois homens e duas mulheres em duas histórias. A primeira de amor e devoção, regados
pela saudade; a segunda de fé, regada pela lealdade e esperança. Tudo isso,
juntos e misturados, concebeu nestes rincões sertanejos um município inteiro.
Atualmente, o município de Santa Brígida tem uma gente que batalha como tantos
outros povos deste país. É um povo que vive as dificuldades impostas pela
aridez do lugar e pelo modo de vida social. Toda vez que a dificuldade bate na
porta e mostra suas garras, o santabrigidense tem vários elementos da sua
história para motivá-lo a seguir sempre em frente.