São Félix – Bahia

Depois de conhecer o seu vizinho e parente, neste capítulo de Um Lugar no Sertão é a vez de conhecer São Félix, que fica na outra margem do Rio Paraguaçu, a 110 km de Salvador. A área territorial do município é um pouco maior que a de Muritiba. São 103,226 km² que abriga uma população de 11.026 pessoas, censo de 2022, o que faz uma densidade demográfica 106,81 hab/km². São Félix faz limites com Cachoeira, Muritiba, Maragogipe, Cruz das Almas, São Felipe e Governador Mangabeira. Sua população estimada para 2024 foi de 11.198 pessoas.
São Félix surgiu durante a expansão da cana-de-açúcar e tem sua vida marcada pelo desenvolvimento da indústria fumageira, com a instalação das fábricas de charutos Suerdieck, Dannemann, Costa Ferreira & Pena, Stender & Cia, Pedro Barreto, Cia A Juventude e Alberto Waldheis, além do cultivo do dendê e um forte comércio de estivas, secos e molhados. Também é conhecida por ter se destacado durante as lutas e mobilização social para a Independência da Bahia.

A história de São Félix começa com a chegada dos portugueses ao Brasil. Quando os europeus aqui chegaram, as terras eram habitadas por Tupinambás. Em 1502, membros da expedição de Américo Vespúcio percorreram toda a costa da baía de Todos os Santos, entrando no grande rio que deságua na baía, passando pela Barra do Paraguaçu, estiveram em São Roque e navegaram rio acima. No ano seguinte, foi enviada expedição, que encontrou vários navios franceses carregados de madeira extraída das matas às margens do rio Paraguaçu. Em 1510, chegaram às terras próximas a Maragojipe e subiram mais o rio chegando ao local onde foi a usina e engenho Vitória, aportando naquele ano e no seguinte, 1511, nas terras onde estão hoje as cidades de Cachoeira e São Félix.

Em 1534, o local era um aldeamento tupinambá com cerca de 20 palhoças habitadas por mais ou menos duas centenas de índios. Com a chegada dos portugueses para explorar a terra e o comércio de madeira, tentaram escravizar os índios e iniciaram a plantação de cana-de-açúcar, que só prosperou com a chegada de escravos negros vindos da África, a partir de 1549. Em São Félix, todo esse processo só se efetivou a partir de 1615, após formação de núcleos em Belém, distrito da Cachoeira, um colégio e um seminário ao lado da Igreja, existentes até hoje. Em São Félix, construíram também uma Igreja e uma Casa de Misericórdia, onde eram atendidos os doentes, na Ladeira da Misericórdia.

Em 1624, a Bahia foi ocupada pelos holandeses, o Recôncavo foi saqueado e São Félix não escapou da ação dos homens de Johan Van Dorth, saqueando lares e templos. A Igreja de São Pedro Velho e a Casa de Misericórdia no alto de São Félix, foram destroçadas e roubadas. Os portugueses, então, abandonaram o local, hoje em ruínas. Em 1822, durante as lutas pela Independência da Bahia, São Félix prestou relevantes serviços lutando ao lado de Cachoeira, vinculada administrativamente. Muitos sãofelixtas morreram no Paraguaçu, após quatro dias de batalhas venceram os portugueses. Em 1832, o Juiz de Paz, Bernardo Guanaes Mineiro, em São Félix, eclode o primeiro levante federalista, que pedia maior autonomia administrativa às províncias.

Em 15 de dezembro de 1857, por ato assinado pelo presidente da província, João Lins Vieira Cansanção de Sinimbu, criava-se a freguesia de Senhor Deus Menino e São Félix. Em termos de administração civil, porém, o povoado permaneceria vinculado a Cachoeira. Em 1860, foram iniciados os primeiros calçamentos, de acordo com a resolução da Câmara de Cachoeira. São Félix viveria tempos de grande desenvolvimento e então foi criado o município com os territórios das freguesias de São Félix, São Pedro do Monte de Muritiba, Nossa Senhora do Desterro do Outeiro Redondo, Nossa Senhora do Bom Sucesso de Cruz das Almas, São Pedro do Aporá e de Nossa Senhora da Conceição do Sapé, desmembrados do município de Cachoeira, pelo Ato Estadual de 23 de dezembro de 1889. A condição de cidade veio por Ato Estadual de 25 de outubro de 1890, com a denominação de São Félix do Paraguaçu, simplificado para São Félix, por Decreto Estadual de 08 de julho de 1931.

Caminhar hoje pelas ruas de São Félix é uma oportunidade para termos contato direto com o passado, com a época em que, à beira do rio Paraguaçu, saveiros transportavam os produtos do campo para a capital. A miscigenação entre os povos branco e o negro e a herança indígena é sua maior riqueza. O tombamento do conjunto arquitetônico, urbanístico e paisagístico de São Félix, pelo IPHAN, ocorreu em 2010. A cidade mantém uma interação histórica, urbanística e paisagística com Cachoeira, situada na outra margem do rio Paraguaçu. As duas cidades estão ligadas pela ponte de ferro construída por ingleses e inaugurada por D. Pedro II, em 1859. A Igreja da Matriz de Deus Menino, de arquitetura rococó, a Igreja do Senhor São Félix, apelo renascentista, ambas construídas no final do século XVIII; o Mercado Municipal, a Estação Ferroviária, o imóvel sede da Prefeitura Municipal, a Casa da Cultura e o Centro Cultural Dannemann são alguns dos imóveis tombados. São Félix, que ontem era porta de entrada para o sertão, hoje é local para conhecer e curtir, acompanhado de uma reflexão sobre o passado e a certeza da construção de um futuro sempre melhor.