Tucano, Caldas do Jorro, Jorrinho, Tracupá e mais!

Neste episódio de Um Lugar no Sertão, Contraprosa chega a Tucano, no sertão da Bahia, a terra do Buraco do Vento, a terra de Othon Bastos. Na verdade, Tucano é o encontro de vários lugares: Tracupá, Creguenhém, Jorrinho, Caldas do Jorro e dezenas de outras comunidades. Tucano está localizado entre Araci e Euclides da Cunha, servido pelas BRs 116 e 410, além da BA 395, esta ainda sem pavimentação asfáltica. O município tem uma área territorial de 2.198,237 km², onde reside uma população de 48.736 pessoas, censo de 2022, perfazendo uma densidade demográfica de 22,17 hab/km². Tucano se limita com os municípios de Araci, Biritinga, Sátiro Dias, Quijingue, Ribeira do Pombal, Cipó, Nova Soure, Banzaê e Ribeira do Amparo. Fica distante de Salvador por 252 km e o IBGE estimou sua população para este ano de 2025 em 51.016 pessoas.

Como quase toda a civilização dessa nossa região, foram os indígenas os primeiros que habitaram o que é hoje Tucano há milhares de anos, ancestrais dos cariris deixaram suas marcas em um acervo de arte rupestre, ainda em estudo por especialistas. A colonização do território de Tucano só ocorreu no final do século XVII e início do século XVIII, por meio da pecuária, realizada por vaqueiros ligados à Casa da Torre, de Garcia D’Ávila. Na década de 1720, foi criado no local uma antiga aldeia de indígenas cariris. Por volta de 1727, um frei de nome Apolônio de Todi edificou uma capela em louvor a Senhora Santana. A povoação cresceu, sendo elevada, em 1754, à categoria de freguesia, com o nome de Santana e Santo Antônio de Tucano, subordinada à vila de Itapicuru de Cima.

A condição de município de Tucano só ocorreu pela Lei Provincial nº 51, de 21 de março de 1837, que elevou a Freguesia de Tucano à categoria de vila, com o nome de Imperial Vila do Tucano, desmembrando-a de Itapicuru e composta de um único distrito. A instalação da nova vila ocorreu dois meses depois, aos 26 de maio daquele ano. Na era Vargas, 96 anos depois, por meio dos decretos estaduais nº 7.455, de 23 de junho de 1931, e nº 7.479, de 8 de julho de 1931, extinguiu-se a vila de Tucano, e o distrito foi anexado ao município de Cipó. Como o ato repercutiu negativamente, Tucano foi elevada novamente à categoria de município, por meio do Decreto Estadual nº 8.447, de 27 de maio de 1933, sendo reinstalado em 24 de junho do mesmo ano, desmembrado de Cipó.
Em 1948, durante perfurações para descoberta de petróleo na Fazenda Macaco, foram encontradas águas termais, transformando essas fontes em um atrativo turístico importante da região. Ao redor dessas termas, formou-se o povoado de Caldas do Jorro. A atração principal do lugar são as águas que jorram a uma temperatura de 48°C. Esse achado transformou a região, levando à criação oficial da estância hidromineral de Caldas do Jorro em 1964, atraindo turismo e sendo considerada um oásis no sertão. A partir daí, o turismo passa a ser um atrativo em destaque no município e Caldas do Jorro começa a se transformar num considerável centro urbano, mesmo ficando a 8 kms da sede do município de Tucano. O Grande Hotel Santo Antônio, inaugurado em 1960, foi um marco inicial dessa urbanização sempre crescente.
Além de Caldas do Jorro, o distrito vizinho, Jorrinho, que margeia o rio Itapicuru e a BR 116, também foi criado com a descoberta de águas termais, embora com temperaturas mais amenas, de 36 graus, e se tornou um centro de turismo com culinária local e passeios de ecoturismo. O senão único é quando o Itapicuru resolve descer com suas águas acima do limite. O povoado é inundado por algum tempo. Outra atração é o distrito de Creguenhém, famoso na música de Raul Seixas. Também há em Tucano a Terra dos couros: Tracupá. O distrito fica também às margens da BR 116 e tem sua história fortemente ligada à produção artesanal de couro, uma tradição que remonta a cerca de um século. A localidade vive prioritariamente da manufatura artesanal do couro, um pilar importante do seu desenvolvimento econômico. Tracupá sedia a Feira de Artesanato de Couro e Produtos da Agricultura Familiar, um evento que celebra essa tradição e atrai visitantes.

O nome Tucano vem de duas prováveis fontes: a origem na designação dos índios tucanos, que anteriormente habitavam a região, ou da provável existência de aves do mesmo nome que povoavam o lugar. Quem visitar o município vai ouvir falar muito do Buraco do Vento, local que se destaca por suas famosas formações geológicas e lendas. Fica à margem da BR 410, seguindo para Ribeira do Pombal. Outro atrativo que se consolida em Tucano é a Cachoeira do inferno, no rio Itapicuru, localizada na parte Oeste do município, após o povoado Rua Nova, um percurso com paisagens deslumbrantes e com cenários de tirar o folego.

A cidade de Tucano viveu dias marcantes com o retorno do ator Othon Bastos à sua terra natal, após 87 anos. A Semana Othon Bastos, no final de novembro deste ano, reuniu moradores, estudantes, artistas e admiradores que celebraram a trajetória de um dos maiores nomes do cinema e do teatro brasileiro. A programação contou com exibições de filmes, visitas à casa onde o ator nasceu, entrega da Comenda de Honra ao Mérito Padre José Gumercindo dos Santos, maior honraria do município, e a apresentação da peça “Não me entrego, não!”, que emocionou o público em praça pública no dia 30 de novembro. A iniciativa, idealizada e produzida pela Gávea Filmes, realizada pela Prefeitura de Tucano, com patrocínio da Transpetro, por meio da Lei Rouanet, aumenta ainda mais a valorização da cultura e o reconhecimento de personalidades que levam o nome da cidade para o país inteiro.

O ator Othon José de Almeida Bastos nasceu em Tucano, Bahia, em 1933. Saiu da cidade com 5 anos apenas e virou intérprete da geração do teatro de resistência, tendo fundado sua própria companhia nos anos 1970, produzindo espetáculos representativos do período. Inicia sua carreira fazendo teatro estudantil na Bahia e daí não mais parou, passando pelo Cinema Novo e por novelas que circularam o mundo. Othon não veio apenas para o espetáculo. Ficou na cidade por uma semana e desfrutou das águas termais de Caldas do Jorro. Se Othon Bastos eleva o nome de Tucano mundo afora, agora o seu ficará consolidado na cidade com a construção de um teatro que levará o seu nome. Isso certamente se somará aos eventos já realizados no município, como a Micareta, a Festa da Rua Nova e o Sertão Folia.
