Internacional

Victória Roshchyna: mais uma vítima das atrocidades de Putin

A jornalista Victória Roshchyna tinha 27 anos. (Foto: Divulgação)
   O corpo da jornalista Victória Roshchyna foi entregue aos ucranianos como de um homem não identificado. Assim dizia a etiqueta pregada num saco de plástico branco contendo os restos mortais de uma das centenas de presos ucranianos devolvidos pelas autoridades russas. Na verdade, era da jornalista e sua identidade acabou confirmada por DNA. A atrocidade foi ainda mais trágica, quando descobriram que o corpo estava sem o cérebro, olhos e laringe. Pesava trinta quilos e os longos cabelos castanhos da jornalista de apenas 27 anos estavam raspados.
   A crueldade praticada pela Rússia pode não chegar ao conhecimento dos chefes de Estado que envergonham seus países ao atenderem ao convite de Vladimir Putin, o invasor da Ucrânia, para comemorar o dia da vitória na II Guerra Mundial e mostrar aos Estados Unidos que formam uma nova frente. Mas, se chegar aos seus olhos esta notícia, não fará a menor diferença. Não é a primeira vez que Vladimir Putin comete atrocidades e conta com a falta de sensibilidade de dirigentes de países alinhados ao método russo de tratar jornalistas não alinhados a Putin.
O corpo da Victória foi devolvido como sendo de um homem. (Foto: Euronews)
  Victória Roshchyna morreu em cativeiro russo depois de ter estado incomunicável durante meses foi devolvido à Ucrânia com sinais de tortura, afirmaram os procuradores ucranianos. Segundo Kiev, a jornalista desapareceu durante uma viagem de reportagem. Seu corpo foi devolvido no âmbito de uma troca de corpos entre a Ucrânia e a Rússia em fevereiro. Yuriy Belousov, que dirige o departamento de crimes de guerra da Procuradoria-Geral da Ucrânia, afirmou que o exame forense encontrou “numerosos sinais de tortura e maus-tratos (…) incluindo escoriações e hemorragias em várias partes do corpo, uma costela partida e possíveis vestígios de choque eléctrico”. Os peritos determinaram que os ferimentos foram sofridos enquanto Roshchyna ainda estava viva. Não é a primeira vez      que a Rússia utiliza este método de tortura contra ucranianos detidos.
   Belousov afirmou que as repetidas análises de ADN confirmaram que o corpo pertencia a Roshchyna, apesar de alegadamente ter chegado da Rússia rotulado como “um homem não identificado”. Belousov disse que o estado do corpo tornou impossível determinar a causa da morte de Roshchyna, mas acrescentou que a Ucrânia estava a trabalhar com peritos forenses internacionais para obter mais respostas. Em reportagem da CNN portuguesa, os colegas de Roshchyna no jornal Ukrainska Pravda confirmaram que o seu corpo foi devolvido da Rússia com órgãos em falta. Citando membros da equipe de investigação que lidou com os restos mortais, disseram que o cérebro, os globos oculares e a traqueia estavam em falta. Segundo eles, poderia ter sido uma tentativa da Rússia de disfarçar a causa da morte.
   Roshchyna desapareceu em agosto de 2023. Os seus colegas afirmaram que a repórter se deslocou a uma região da Ucrânia controlada pela Rússia – uma provação perigosa para qualquer ucraniano – para relatar a vida das pessoas que vivem sob ocupação. A jornalista Evgeniya Motorevskaya, que trabalhou com Roshchyna como antiga editora do Hromadske, um meio de comunicação ucraniano, contou que a jovem repórter estava determinada a fazer o seu trabalho o melhor possível. “Para ela, não havia nada mais importante do que o jornalismo. A Vika estava sempre onde se desenrolavam os acontecimentos mais importantes para o país. E teria continuado a fazê-lo durante muitos anos, mas os russos a mataram”, afirmou numa declaração publicada nas redes sociais quando a morte de Roshchyna foi anunciada pela primeira vez, em registro da CNN.
Obstinada pela profissão, Victória foi vítima das atrocidades do regime de Moscou. (Foto: Veja)
  O pai de Roshchyna deu o alarme pela primeira vez quando a jornalista deixou de responder às mensagens durante a missão, mas a família não sabia do seu paradeiro até nove meses depois, quando Moscovo admitiu finalmente que a mantinha detida. Tal como milhares de outros civis ucranianos, Roshchyna foi raptada pelas autoridades russas na Ucrânia ocupada e deportada para a Rússia, onde foi mantida sem acusação nem julgamento. Em setembro de 2024, Roshchyna, uma jovem saudável de 27 anos, já estaria morta, embora a sua família só o tenha descoberto cerca de um mês depois, quando recebeu uma notificação da Rússia.
   Petro Yatsenko, porta-voz do Centro de Coordenação Ucraniano para o Tratamento de Prisioneiros de Guerra, revelou em outubro que Roshchyna morreu quando estava a ser transferida de um centro de detenção na cidade de Taganrog, no sul da Rússia, para Moscovo. Segundo o próprio, a transferência foi efetuada como preparação para a sua libertação no âmbito de uma troca de prisioneiros.
   O centro de detenção de Taganrog é conhecido pelo tratamento cruel infligido aos detidos. Jornalistas da CNN falaram anteriormente com prisioneiros ali detidos, que descreveram terem sido sujeitos a maus-tratos físicos e psicológicos, terem recebido quantidades insuficientes de alimentos e terem sido privados do acesso a cuidados de saúde básicos. Repórteres do Ukrainska Pravda juntaram-se a jornalistas de mais de uma dúzia de meios de comunicação internacionais após o anúncio da morte, para tentar perceber o que lhe aconteceu durante os últimos meses da sua vida. Os mesmos entrevistaram dezenas de prisioneiros, bem como guardas prisionais e defensores dos direitos humanos, tendo conseguido localizar os seus movimentos e descrever a brutalidade da sua detenção.
   Afinal, quando o mundo imporá limites às atrocidades da Rússia?

Fontes: Veja, CNN-Portugal e Euronews.

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