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O risco de morte no jornalismo

O assassinato de Claudio Rotay é exemplo do quão perigosa é a profissão do jornalista.

Qualquer que seja sua profissão, há sempre ao lado dela uma placa de advertência: Perigo! Não existe profissão segura. Professores são assassinados em plena sala de aula, médicos são mortos ao sair de hospitais e até padres são alvejados a tiros em pleno altar, no momento da pregação do amor ao próximo como saída para a humanidade. O ser humano é um animal selvagem, mesmo após considerável evolução da espécie. Começo esta crônica assim para tranquilizar uma leitora do Contraprosa que mandou um alerta sobre o perigo que vivo ao criticar políticos e denunciar desvios de recursos públicos na nossa região. Sei do perigo que me cerca, mas o medo pavimenta a estrada que nos liga do atraso atual ao atraso futuro.

O jornalismo, portanto, é uma profissão perigosa, principalmente quando se trata de apontar os defeitos daqueles que foram designados para consertar problemas e acabam usando o sistema para beneficiar-se dele.  E são muitos os que praticam desvios de conduta, espalhados pelos três poderes e em atividades importantes para o desenvolvimento da nossa sociedade. Todos movidos pela prática da impunidade. O assassinato de jornalistas continua sendo um problema grave na América do Sul. No Brasil, entre 2013 e 2023, foram registrados 11 assassinatos de jornalistas, segundo o Índice de Impunidade Global 2023. A impunidade desses crimes é preocupante, pois muitos casos permanecem sem solução.

Na América Latina, entre 2011 e 2020, 139 jornalistas foram assassinados, de acordo com a Repórteres Sem Fronteiras. A maioria desses crimes ocorreu em países como Brasil, México, Colômbia e Honduras, onde jornalistas investigavam temas como política, corrupção e crime organizado. Em 2022, houve um aumento de 50% nos assassinatos de jornalistas, totalizando 86 mortes no mundo, sendo que quase metade ocorreu na América Latina e no Caribe. O Brasil registrou três assassinatos de jornalistas nesse período. E ainda não se tem dados fechados sobre 2023 até os dias atuais. Esses números refletem os desafios enfrentados pela imprensa na nossa região, onde a violência contra jornalistas muitas vezes está ligada a investigações sobre corrupção e crime organizado. A impunidade desses crimes reforça a necessidade de medidas mais eficazes para proteger profissionais da comunicação. O mais comum é sentir medo e fazer um jornalismo puxassaquista.

Dom Philips foi assassinado por defender o meio ambiente.

E não é só nos grandes centros. O último grande caso que tivemos foi do jornalista britânico Dom Phillips, assassinado em 5 de junho de 2022, junto com o indigenista Bruno Pereira, durante uma viagem pelo Vale do Javari, no Amazonas. Eles estavam na região para entrevistar indígenas e ribeirinhos para um livro sobre a Amazônia. Os dois foram atacados enquanto viajavam de barco. Após 10 dias de buscas, um dos suspeitos confessou envolvimento no crime e indicou a localização dos corpos. A Polícia Federal concluiu que o assassinato foi motivado pelo trabalho de fiscalização realizado por Bruno Pereira na região, que incomodava grupos criminosos ligados à pesca e caça ilegais. O mandante do crime foi identificado como Rubens Villar, conhecido como “Colômbia”, que teria financiado a execução e a ocultação dos cadáveres. O caso gerou grande repercussão internacional e críticas à falta de proteção para defensores ambientais e jornalistas que investigam crimes na Amazônia. Ou seja, até defender o meio ambiente é um perigo!

E para não ficar em caso distante, quem não se lembra do caso Claudio Rotay? O assassinato deste radialista de Tobias Barreto, em Sergipe, aconteceu em 17 de junho de 2002. Ele foi morto a tiros em um bar da cidade, onde foi alvejado no peito e na cabeça. Na época, Rotay era pré-candidato a deputado estadual e costumava denunciar irregularidades em seu programa de rádio. O crime gerou grande repercussão, e suspeitas indicavam que poderia ter sido encomendado. Três homens encapuzados chegaram ao local e dispararam contra Rotay e seu segurança, que também morreu. Outro segurança ficou ferido. Após 20 anos, em agosto de 2022, o ex-prefeito de Tobias Barreto, Diógenes Almeida, que havia sido acusado de envolvimento no crime, foi absolvido em júri popular. O julgamento ocorreu no Fórum de Tobias Barreto, e o júri decidiu, por unanimidade, que não havia provas suficientes para condená-lo.

Portanto, tenho consciência de que corro sim muito perigo. Assim como Claudio Rotay e Dom Philips, posso virar alvo daqueles que se acham no direito de desviar as verbas dos professores, dos doentes, da merenda das crianças, das futuras estradas pavimentadas, dos remédios dos que sofrem, do trabalho dos desempregados etc, e que ainda encontram apoio em alguns Juízes, desembargadores, promotores públicos, ministros, servidores e até policiais. Mas no final das contas, é o eleitor quem decide como acabar com tudo isso. Lutamos para um dia chegarmos a uma democracia plena onde cada cidadão, por escolha própria, vote em projetos de vida e não em pessoas ou facções partidárias que necessitem da morte do outro para continuar existindo. Precisamos fugir da ideia de ter uma ideologia para viver.

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